24 de novembro de 2009

I Love Búzios, ainda...

Búzios, para quem não conhece, é uma península com 23 praias, localizada a cerca de 190 km do Rio (foto no post abaixo). Frequento o lugar há mais de 20 anos e não consigo deixar de ser feliz ali. Existe qualquer coisa mágica naquelas praias, nos ares da maresia, no vento que quase nunca descansa. Nas cores.
Definitivamente, o sol brilha diferente ali.

Mas, como o Sofrimento é meu fiel companheiro, também não consigo evitar uma pontada no coração a cada retorno: o que estão fazendo com a região é um crime, literalmente: Búzios é uma área de restingas especialíssima, tem um tipo de Mata Atlântica que se forma em solo arenoso, já ameaçado de extinção, e está sendo destruída cada vez mais rápida e ferozmente.

Com o fato do ser humano, gafanhoto que é, precisar ocupar os paraísos, já me conformei. O que não dá para aguentar é a burrice especulatória, a sôfrega ganância acima de tudo. Pegam os terrenos nas encostas e constroem em, digamos, 1000m quadrados, onde deveria, no máximo, caber uma casa de 100 metros de área construída, verdadeiros monumentos ao mau gosto de três, cinco andares, sem deixar uma árvorezinha sequer para dar um "colorido" na paisagem. E ainda fazem "gramados" onde antes havia mata cheia de passarinhos.

É casa sobre casa mesmo, principalmente nas regiões de Geribá, a mais famosa e badalada praia, Ferradurinha, sua vizinha já "ferrada" para sempre, e João Fernandes, onde sequer conseguimos chegar na areia, dada a quantidade de hotéis cafonas e suas mesinhas e ombrelones pelo caminho. Sem falar de Armação, o "centro nervoso", famoso por ter hospedado Brigitte Bardot lá nos 60's, em cujas águas não mais tenho coragem de mergulhar.

E olha que Búzios foi reconhecida pela União Internacional para Conservação de Natureza como um Centro Mundial de Diversidade Vegetal, título concedido a poucos lugares no mundo que resguardam espécies raras e ameaçadas. Aquela vegetação abriga nada menos que 20 espécies de orquídeas endêmicas e tem um tipo único de cactos que está dando lugar a coqueiros ornamentais e que tais. Putz!

Búzios sofreu diversas invasões de franceses, holandeses e ingleses, e resistiu. Já foi base de piratas, serviu como ponto estratégico para o tráfico de escravos, e resistiu. Viu seu pau-brasil ser praticamente extinto, e resistiu.
Quanto tempo mais será que vai resistir à invasão argentina e à sanha demolidora dos tratores ensandecidos?

Abaixo, dois videos que encontrei no Youtube (um deles em Super-8! Uma delícia...) e que servem como uma mostra do que era e do que é hoje, 30 anos depois, a praia de Geribá. Reparem que não havia nada, a não ser poucas casinhas de pescadores, na beira da praia e nas encostas. Sugestão? Assistam aos dois ao mesmo tempo.

PS: Apesar disso tudo...ai, que vontade de voltar!



3 comentários:

Edu Campos disse...

É, carioca, nossa história se resume a isso: ganância, especulação e destruição. Eu nunca consigo entender quando ouço que estamos construindo um país, porque, para mim, é claramente o contrário que está sendo feito.
Um grande problema é que as pessoas perderam o contato com a terra há duas gerações, e saem das cidades com montes de dinheiro e só querem duas coisas desses paraísos: ou adaptá-los às suas necessidades urbanas, ou fazer mais dinheiro às custas da terra.
Só um poder público muito interessado e leis muito rígidas poderiam ajudar. Mas o principal já se perdeu.
Se quiser, leia o pequeno trecho do bom livro de Warren Dean que reproduzi pouco abaixo das fotos que você elogiou tanto, lá na balsa do grande rio. Ele mostra bem a mentalidade que veio para este continente e que continua prevalecendo.
Mas acho que as ONGs também estão ajudando bastante, e Búzios deve ter algumas, não ?
Abraço.

gentil carioca disse...

É isso mesmo. Não me lembro se Caetano, mas já cantaram algo parecido com "ainda estamos em construção, mas já parecemos ruínas..."
Uma lástima.
Qto à ONGs, existem várias atuantes, inclusive a SOS Mata Atlântica. Mas pouco conseguem ante a imbecilidade política que se queda de joelhos à força do Capital. E sempre rola aquele papo de "vamos destruir só um pouquinho e construir parques blá blá blá", como um grande SPA em Tucuns, uma praia de Búzios, que tem o lado esquerdo, perto de Cabo Frio, transformado em APA por ser reserva de pau-brasil. Uma confusão danada, porque tombaram, mas não indenizaram os "donos". Vai entender...
Vou lá ler o texto, sim.
bj

Desmanche de Celebridades disse...

Pois é minha amiga Gentil, o grande problema é mesmo a raça humana, concordo. Lá também não é perfeito, faço questão de salientar isso nos comentários do post que vc comentou. A intenção do post era mesmo a de ressaltar a cultura civica e republicana, os valores éticos e morais, bem como as instituições europeias, que na pratica funcionam melhor. Era ressaltar a organização e como temos muito o que aprender sobre isso. Compreendo a sua crítica, e acho que também sofreria com isso na europa. Sentiria falta do macarrãozinho de ultima hora também. Mas essa é a cultura deles né? E padrões culturais não podem ser hierarquizados. É o jeito de viver deles. Temos o nosso também que é bacana quanto as relações pessoais, mas também é mais recheado de hipocrisias e falsidades. Acho que nas relações pessoais um equilibrio entre a cultura europeia e cultura brasileira seria o ideal. Mas quanto à organização social eles dão de goleada.
Belo comentario, belo blog.

Abraços,
obrigado por enriquecer o espaço de discussões do desmanche de celebridades : )
Volte sempre!