30 de janeiro de 2010

Liberdade ainda que à tardinha

Passada a história trágica de minha relação com a Oi/ Velox - relação essa já fadada ao divórcio litigioso e sobre a qual resolvi poupar vossa paciência de maiores detalhes - deixo nessa madrugada meio bêbada um video quase antigo, que pretendia postar há mais de uma semana e que adorei quando vi.
À despeito de todos os transtornos e problemas que nossos aeroportos têm causado (e passado), uma luz no fim da pista nos dá a pista para a continuidade da cidade do Rio de Janeiro como um porto de alegrias e surpresas: o humor. O HUMOR!!!
É preciso rir. E dançar. E comemorar qualquer coisa que valha a pena, espocar mil champanhes - cachaças também, e sobretudo - suavizar a levada diária, sacar a surrealidade da existência, a impossibilidade do nexo, a urgência do samba.
E, portugueses que me dão a honra e o prazer da visita, obrigada por vossa participação nesse...ahn...eloquente e fundamental episódio.



Obs: para os desavisados, o dia dessa performance era o aniversário da "cidade maravilha da beleza e do caos", atualmente mais para o "caos" do que para a "beleza", mas, ainda assim, para mim sempre maravilhosa.

27 de janeiro de 2010

Sorry...

Amigos da Rede, mil perdões pelo sumiço. Estou sem Internet em casa há 7 dias graças à extrema competência da Oi/Velox que me deixou de plantão 5 vezes e não apareceu para atualizar a velocidade do meu modem.
Já me esfalfei, esperneei, ameacei, xinguei, até que, agora, relaxei ante a deliciosa expectativa de um processo em cima deles (advogado já devidamente acionado e marcado).


Voltarei assim que a CIA. cumprir o prometido e (re)ligar minha conexão.
beijos a todos

18 de janeiro de 2010

Imagina se a moda volta...

Olhem só essa pérola! Uma delícia que dá o que pensar, inclusive que os cochabrandores deboxados e desrespeitosos contemporâneos devem agradecer aos céus pelas mudanças de costumes...




OBS: na época do fato magistralmente descrito abaixo (período da Regência), o ministro da justiça era Diogo Antonio Feijó (Padre Feijó), que poucos anos depois seria eleito regente único.





Como se tratava o estupro em 1833
SENTENÇA JUDICIAL DATADA DE 1833
Provincia de Sergipe
ipsis litteres, ipsis verbis! -

PROVINCIA DE SERGIPE
o adjunto de promotor público, representando contra o cabra Manoel Duda, porque no dia 11 do mês de Nossa Senhora de Sant'Ana, quando a mulher do Xico Bento ia para a fonte, já perto dela, o supracitado cabra, que estava de em uma moita de mata, sahiu della de supetão e fez proposta à dita mulher, por quem queria para coisa que não se pode trazer a lume, e como ella se recuzasse, o dito cabra abrafolou-se dela, deitou-a no chão, deixando as encomendas della de fora e ao Deus dará. Elle não conseguiu matrimônio porque ella gritou e veio em amparo della Nocreto Correia e Noberto Barbosa, que prenderam o cujo em flagrante. Dizem as leises que duas testemunhas que assistam a qualquer naufrágio do sucesso fazem prova.

CONSIDERO
QUE o cabra Manoel Duda agrediu a mulher de Xico Bento para conxambrar com ela e fazer chumbregâncias, coisas que só marido della competia conxambrar, porque
casados pelo regime da Santa Igreja Cathólica Romana;
QUE o cabra Manoel Duda é um suplicante deboxado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quiz também fazer conxambranas com a Quiteria e a Clarinha, moças donzellas;
QUE Manoel Duda é um sujeito perigoso e que se não tiver uma cousa que atenue a perigança dele, amanhan está metendo medo até nos homens.

CONDENO
o cabra Manoel Duda, pelo malificio que fez à mulher do Xico Bento, a ser CAPADO, capadura que deverá ser feita a MACETE. A execução desta peça deverá ser feita na
cadeia desta Villa.
Nomeio carrasco o carcereiro.
Cumpra-se e apregue-se editais nos lugares públicos.

Manoel Fernandes dos Santos
Juiz de Direito da Vila de Porto da
Folha Sergipe, 15 de outubro de 1833.

(Fonte: Instituto Histórico de Alagoas.
Cedido pelo Prof. Carlos Alberto Salvatore)

17 de janeiro de 2010

A proliferação das palavras

E por esses caminhos que a Vida nos oferece, volta e meia deparo-me com obras que me tocam fundo, seja através da alma, do humor, da sensibilidade, da estética, ou do conteúdo. E, ladra que sou, assumidamente sanguessuga, volta e meia também chupo sem pudor aquilo que adoraria ter feito e não pude/não consegui/não tive a idéia, ou o talento necessário. É o caso agora.

Já há algum tempo persigo o blog "os nascimentos das palavras", ali ao lado linkado. E é de lá que vem o texto abaixo que, ao me Encantar, me trouxe a vontade de Compartilhar. Um texto em profusões que exige carinho para ser degustado, que nos chega devagarzinho e sorrateiro...

"(e o primeiro e o segundo e depois cada um dos passos, e cada trilha caminhada ou interrompida ou preterida, cada ponte cruzada ou desprezada, as esquinas que não alcancei e aquelas onde titubeei, as estações onde desci e aquelas de onde parti e aquelas que só avistei, os campos que me serviram de caminho ou pouso, paisagem, trabalho ou descanso, os rios por onde naveguei, os rios que me deram de beber, os rios que me levaram a outros rios, as escadas que subi, as escadas que não quis descer, cada centímetro do asfalto das estradas que percorri, cada segundo das esperas pelos trens, e os trens que perdi, as muitas vezes que caí, cada parede que ergui e cada uma em que me apoiei, as rotas que tracei e aquelas que deixei, caminhos, caminhos, caminhos, cada um um caminho que gerou outro e que juntos formaram um só, revoada-caravana-miríade-alcateia-corja-coro-buquê-plêiade-cancioneiro-cordilheira-legião-manada-matilha-ninhada-constelação-saraivada-girândola-panapaná-panapaná-panapaná-panapaná-panapaná de caminhos, e cada um infinitamente solitário e belo em ser um caminho, e juntos infinitamente belos por serem infinitamente belos sozinhos, e todos, e cada um me trouxeram ao aqui, à você, à infinitude, à sua infinitude, à minha infinitude, à sua pele e aos seus olhos, à minha pele e ao meu olhar, e a cada um dos seus rios, risos, pontes, trilhas, estações, escadas, estradas, esquinas, caminhares, os meus caminhares, eu, as minhas pontes e escadas e estradas a mim, e por isso a outras pontes e a outros caminhares, eus, a eu-mosaico de caminhos, a meu não-mosaico de caminhos, a tudo que é mosaico e a tudo o que está fora dele, ao que está ainda distante mas já dentro de mim, aos tentares, aos caíres, aos meus caíres e aos meus levantares, ao meu cair e ao meu levantar no silêncio, ao silêncio, ao meu silêncio, ao meu silêncio que de tão silencioso pare caminhos como os loucos parem loucos em cada olhar, como eu pairo panapaná, pairar, parir, pairamos parires, pairamos pairares, pairar o pairar, pairo e pairo, pairo o parir e o pairar e o partir e o nunca parar (e é por isso que tenho que olhar o mar de frente: não há porto, nunca houve um porto, nem seguro nem inseguro, nunca houve, o que houve foram miragens, mirações, visagens, mas nunca um porto, só miragens nesse deserto que se torna o oceano caso não queiramos aceitar a deriva, aceitar à deriva, derivar-nos da deriva, aceitar a ausência e a finitude dos portos, porque portos pressupõem margens mas há só mar, o mar virgem sem margens, sem portos-pressuposições, sem mesmo trilhas ou escadas ou esquinas ou pontes ou estações ou traçados ou caíres ou levantares ou primeira ou segunda ou até mesmo sem a terceira margem, talvez só o louco oceano céu aberto mar aberto aberto silêncio parir pairar panapaná panapaná panapaná panapaná"

Murilo Hildebrand de Abreu

Thanks a lot, Murilo

16 de janeiro de 2010

Bodas

Há vinte e cinco anos rolava o Rock'n Rio, o número um.

Lembro que chovia muito e a "cidade do rock" virou um lamaçal só: o terreno era imprópio para tais eventos, as estruturas foram construídas sobre um pântano aterrado.
Sei disso não por ter estado lá, mas por notícias de amigos e da imprensa, já que enquanto o rock rolava solto nas veias lá pelas bandas de Jacarepaguá, o soro rolava pesado nas veias de minha mãe que agonizava no hospital (ela morreria durante a reprise do show de Nina Haggen na manhã do dia 18).

Putz, difícil de acreditar que lá se vão 25 anos!!!!

25 anos durante os quais eu:
engordei, emagreci, açucarei o sangue e continuei na estrada. Me casei, mudei, separei e peguei a estrada. Viajei, voltei, fui embora e acelerei na estrada. Trabalhei, fui demitida, me demiti e a estrada, logo ali. Fiz amigos e aniversários na estrada. Amantes chegaram, alguns eu amei, outros abandonei pela estrada. Chorei muito, ri mais ainda, dancei na pista e...na estrada. Levantei, tropecei, caí e também enterrei meu coração na curva da estrada.

Tinha nuvens e sol - na minha estrada choveu e trovejou. Achei potes de ouro no fim dos arco-íris que coloriram a minha estrada. E, entre pedras e lama, cruzei mares e montanhas.

Das estradas por onde andei, sempre trago Saudades.

Deixo-vos agora, então, na companhia de uma saudosa banda que conheci nessa estrada e que esteve por essas plagas em 1985. Eu, por aqui, pretendo continuar pela estrada afora.
E que seja bem longa.

15 de janeiro de 2010

Shy moon



Ergui os olhos pra lua
e implorei.
Mas ela era ainda nova
enquanto que eu,
já estava cheia.

14 de janeiro de 2010

Ça va sans dire

"A única coisa tão inevitável quanto a morte...é a vida"
Charles Chaplin


Zilda Arns Neumann (Forquilhinha, 25 de agosto de 1934 — Porto Príncipe, 12 de janeiro de 2010)



Gentil Carioca está de luto

13 de janeiro de 2010

"Não preciso do fim para chegar"



Manoel de Barros me encanta. Seja pela figura simples de bicho do mato a construir ninhos de versos; seja pelo poeta louco em cujos poros gorjeiam as palavras.




Ele está velho: 93 anos de lápis. Mas parece que não se dá conta (as lesmas e os sapos não tiveram coragem de lhe contar, sabe como são os bichos...educados demais para certas inconfidências)e escreve agora, ainda à mão livre, um novo livro com teor ainda desconhecido que já se confunde com obra prima a "destroncar imagens".

Mas enquanto Sr. Livro não vem, poderemos em breve nos banhar em Barros num documentário que promete ser uma "desbiografia oficial" desse poeta para quem
"poesia é voar para fora da asa": "Só Dez por Cento é Verdade", de Pedro Cézar (o título refere-se a uma frase de MB: "Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira").

Esse filme, que conta com a presença corporal e palavrar de Manoel, já nasceu como um marco histórico no universo fílmico-lírico tupiniquim: o mestre que tem pela palavra "a mesma fascinação que a lesma tem pela pedra" tem, também, notória aversão a entrevistas. De acordo com Pedro Cézar, a façanha só foi possível porque, diante da resistência do poeta em aparecer, desistiu da empreitada com um último comentário que o teria desarmado por completo: "Era apenas um sonho..."
As filmagens começaram no dia seguinte do ano de 2008.

Fiquem agora, pois, com uma micro amostra daquele que procura a "palavra que serve na boca de passarinho":

"O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas
maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas
com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os
besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.

(...)

Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor, esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
- Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resto da vida um certo gosto por nadas...
E se riu.
Você não é de bugre? - ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em estradas -
Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
gramática."

Mundo Pequeno (fragmentos)
do livro "O Livro das Ignorãças" - ed. Civilização Brasileira.

12 de janeiro de 2010

Domingo al mare...

Aniversário de um amigo com pretensões a marinheiro, meio foca, meio peixe boi. Sol, muuuito sol. Calor. Só podia dar nisso...







...um puta passeio pela baía mais linda do mundo!

11 de janeiro de 2010

Há nomes que já nascem predestinados...

"Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar..."


Florbela Espanca, poeta portuguesa, nasceu assim: Flor Bela. Quis o destino que seu nome se confirmasse...

7 de janeiro de 2010

Cinema é a maior diversão!

Ontem lutei contra a preguiça que se abate sobre mim nesses dias de calor infernal e úmido e resolvi ir ao cinema. Qualquer filme estava valendo, já que minha escolha de lazer se dava mais pela culpa em não ter visto tantos filmes que já saíram de cartaz, do que pela vontade em assistir essa ou aquela película específica. Acabei entrando no primeiro cinema que apareceu no percurso entre a Livraria da Travessa de Ipanema, onde estava, e a loja onde tinha que trocar um presente de Natal. E o filme em cartaz...ah, o filme foi, afinal, o verdadeiro e inesperado presente: "Procurando Elly", do iraniano Asghar Farhadi, que, aposto, concorrerá ao Oscar "estrangeiro".

E o melhor é que a cada vez que penso nele, mais eu gosto de sua simplicidade, da ausência de efeitos especiais, da câmera que deixa "a vida rolar", da história que começa devagarzinho e vai apresentando um país e um povo que absolutamente não nos deixam conhecer, a não ser por suas mazelas políticas e religiosas.

Ignorante total, me encontrei descobrindo que, afinal, existem seres humanos normais no Irã, gente! A julgar pelo que nos traz a mídia internacional, é de pasmar que nem só de Aiatolás e talibãs viva o mundo muçulmano. Imaginem só: eles tem turmas, filhos, namorados, alugam casas para um fim de semana, cozinham juntos, contam piadas, gargalham até. Não é incrível? Não andam pelas ruas com bombas na cintura, não levam suas mulheres pela coleira, não fazem lavagem cerebral em suas criancinhas. Um espanto.

E foi isso o que mais me apaixonou no filme: para além de uma história bem contada - se o início é leve e ingênuo, a partir do meio, quando do desaparecimento de Elly, se tranforma numa rede de tensões - para além de ótimos atores (destaque para Golshifteh Farahani, aquela que foi banida do Irã por ter participado de "Rede de Mentiras"), ele retrata costumes tão distintos dos nossos quanto o são, me permitam a analogia, o biquine fio dental e a burca, absolutamente diferentes e igualmente símbolos da submissão feminina.

Enfim, recomendo entusiásticamente. É uma delícia.
E vivas ao povo e ao cinema iraniano!

4 de janeiro de 2010

To be and not to be

"Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano.



"Quem sou eu no mundo?"



Essa indagação perplexa é o lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira."

Paulo Mendes Campos