29 de dezembro de 2009

A flor do meu desejo...

Não sou muito chegada a textos oníricos sobre fins de ano, Natal e que tais.
Mas não posso me furtar a deixar aqui umas poucas palavras, já que esse ano que passou foi meio "estranho" para mim, para o país mais uma vez pego de cuecas na mão, e para as questões do planeta mais uma vez afogadas na estupidez que reinou na distante Dinamarca onde, sabemos todos, sempre houve algo de podre...

Mas, notem bem, o ano que chega é o Ano do Tigre, símbolo da sorte, da força e da rebeldia. Nesse ano, preparem-se, tudo é drástico, para o bem, ou para o mal.

E foi pensando nisso, na vitalidade explosiva de 2010, que fotografei uma flor de maracujá que brotou na minha varanda, linda e poderosa na sua existência de apenas um dia! Um só dia de esplendor que me cheira a "milagre", já que eu nunca plantei maracujá nenhum, e nem muito menos cuidei desse, que só pode ter chegado aqui pelos
passarinhos que ainda insistem em Copacabana.

E, mesmo assim, sem maiores cuidados do que a água da chuva eventual, a vida se impôs e as flores brotaram.



Esse é o meu recadinho para vocês nesse momento de...hummm...reflexão: a vida se impõe, galera!!! E, mesmo que pelas grades de ferro de Copacabana, e como já cantou Gonzaguinha, ela é bonita, é bonita e é bonita...

S'imbora povo!!! Que venha 2010 e que nos encontre com a mente esperta, a espinha ereta e o coração tão tranquilo quanto essa flor de maracujá que, a despeito de tudo, nasceu pela vontade da Terra.

Beijos a todos.

23 de dezembro de 2009

Pensamento para um fim de ano...



"E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre".

Miguel Souza Tavares
em "Equador"

22 de dezembro de 2009

Sem palavras...

A vocês que me dão a honra de por essas paragens se achegarem vez por outra, minhas sinceras desculpas pela ausência. É que ando com pensamentos confusos, idéias, mais ainda. Meio fim de ano, meio fim de uma festa que sequer começou...

As palavras, mesmo as vagabundas, me fogem, escorrem entre essas teclas, e não formam sentido algum, a não ser para mim mesma, e olhe lá!

Então, meus caros companheiros virtuais, voltarei em breve, espero, com alguma coisa que valha mais a pena do que fantasmas e sensações mal traduzidas.

Deixo aqui, no entanto, uma pérola que cabe perfeitamente nesse espaço forjado por uma carioca da gema, copacabanense convicta e amorosa: o genial paraibano, o "rei do ritmo", Jackson do Pandeiro, cantando uma das músicas que o tornou famoso lá nos idos dos 50's...

17 de dezembro de 2009

O Obama é fhogo!

Essa mini-fotonovela vem lá do Todo Prosa que, por sua vez, recebeu de um amigo que, por sua vez, tirou do www.brogui.com. É absolutamente genial!!!
É meu último post sobre o Berlusconi.
Ou não...

16 de dezembro de 2009

Pra você, imã da madrugada...

Para além das eternas discussões sobre Música ser ou não ser Poesia (e até porque eu não dou a mínima pro resultado da celeuma), fica aqui o registro do encontro entre dois abençoados e maravilhosos malditos que, a essas alturas, devem estar tomando todas em algum lugar entre o Alto Leblon e o Baixo Paraíso: Cazuza, o autor, e Cássia Eller, o bardo...



"Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia

E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia

E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria"

Todo Amor que Houver Nessa Vida
Cazuza
Composição: Frejat/ Cazuza

15 de dezembro de 2009

Há mais coisas entre o céu e a terra...



O que será que esses dois Exterminadores têm em comum? Hummm... Músculos?
E o que será que o-homem-que-nunca-tomou-hormônios tem de tão engraçado assim a dizer pro Homem-que-nunca-sorria lá na fria Dinamarca onde, sabemos todos, há algo de podre?



Nem a ficção deu conta desse encontro: Mr. Burns e Conan (o bárrrrbaro).


A realidade, afinal, se impõe bem mais Fantástica: poderia ser um drama, mas, antes, é chanchada...

(e que gravata é essa de Arnaldo combinandinho com a bolha verde atrás do José, meu deus?!)

14 de dezembro de 2009

Ça va sans dire...



E aí...
Bem feito! Dez mil vezes bem feito, seu babaca!!!!!

Quisera fosse apenas humor negro...

Em pleno momento em que nosso país envia mais de 700(!) pessoas para a Dinamarca à guisa de discutirem e providenciarem novos rumos e atitudes para a salvação de nosso combalido planeta, eis que me deparo com um cenário pra lá de deprimente a apenas 30 km da cidade de São Paulo, em Cotia, no bairro da Granja Viana: a destruição de nada mais, nada menos, que 300 mil metros quadrados de Mata Atlântica, um crime não só contra o bom senso e a ecologia, mas um crime federal, com severas punições previstas por lei! E para quê? Para a construção de mais um condomínio Alphaville.

A área antes de AlphaVille chegar


Esse empreendimento "conceitual" de moradia, que começou em 1970 e tem o desplante de se intitular "a grife brasileira do urbanismo sustentável", está presente em 40 cidades de 16 estados de nosso país. Se propõe - e olhem só que cinismo - a "entender as peculiaridades de cada região, sempre mantendo o espírito de liberdade e a atmosfera saudável que caracteriza o estilo AlphaVille. Cada empreendimento é projetado sob medida, levando em conta a cultura e os hábitos de cada localidade. Mas todos os AlphaVilles têm em comum o compromisso com a sustentabilidade, com a preservação do meio ambiente e o modelo de ocupação de baixa densidade, próprios do Novo Urbanismo."

Seria de rolar de rir, não fosse de chorar à exaustão. As casas, ou melhor, a arquitetura urbana que caracteriza o Alpha-Horror (esse título foi conferido pelo Ricardo Soares, do blog Todo Prosa ali ao lado linkado, meu cicerone e companheiro de angústia) segue a estética de gosto altamente duvidoso do american way of life, o que não tem absolutamente nada a ver com o Brasil e nossas "culturas e hábitos" (sic): constroem ruas fechadas, praças pavimentadas repletas de palmeirinhas made in Miami (argh!), umas "quase cidades" isoladas das comunidades vizinhas que vendem a ilusão de que o mundo é maravilhoso, de que não existem problemas de nenhuma ordem - e olha a felicidade aí, genteee!!!! Uma coisa tipo "Truman Show", sacam?

A área depois de AlphaVille chegar


Aí, então, volto eu ao primeiro parágrafo: 700 pessoas em nossa "modesta" e proba delegação ecológica lá no outro lado do mundo e, bem debaixo de nossos narizes ardidos de poluição, um crime absurdo é cometido e nada, absolutamente nada acontece!!
Poderia ser apenas piada de mau gosto, pesadelo, eco-chatice delirante, mas não, é de verdade mesmo. Óbviamente a corrupção está comendo solta enquanto que nossa delegação-do-bem-tão-preocupada-com-o-futuro-do-planeta está cagando pro seu quintal, cada vez mais acimentado por Alpha-Villões devoradores de florestas.

Os moradores da região tentam, até agora em vão, fazer alguma coisa e se mobilizam. Abaixo, num video que registrou uma de suas logradas tentativas, podemos ter uma idéia mais próxima do horror ali cometido impunemente. Mais detalhes no blog que criaram e de onde "roubei" as fotos acima: granjaviana.blogspot.com

10 de dezembro de 2009

Hasta la vista, baby...

Parto em direção ao sul. Nesse fim de semana estarei ausente, em busca de alguma réstia de sol, um pouco de azul. Não peço muito, basta-me alguma luz, que aqui já há nublados demais...
Deixo vocês na boa companhia de uma Fantasia.
Até a volta.



Para Além da Curva da Estrada

Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

9 de dezembro de 2009

Para E.

Eis que recebo o release de mais um - e nunca demais - livro, esse de Ronaldo Werneck, sobre Humberto Mauro, grande mineiro da Zona da Mata que, lá do início do século passado, veio a se tornar O grande Nome do cinema nacional, referência fundamental para outros grandes cineastas como Glauber e Nelson Pereira dos Santos.

Quem não conhece HM não sabe o que perde. Diz-se dele que é o verdadeiro fundador do Cinema Novo. Diz-se, também, que o mais brasileiro de todos os nomes de nosso história cinematográfica, visto serem suas obras verdadeiros libelos de nossa cultura, de nossas gentes, nosso folclore e de nossa música. E de fato: em seus mais de 80 filmes, entre curtas, longas e documentários, o Brasil é o personagem principal.

E que enquadramentos, meu Deus! Que fotografia! Os contrastes entre "seus pretos e seus brancos" são verdadeiros bálsamos para esse nosso mundo inundado por fotoshopagens...

Ao ler o tal release, lembrei-me logo do filme que segue abaixo, provavelmente um dos primeiros video-clipes do mundo, o último dirigido por nosso cineasta em questão. Foi produzido em 1964, e é uma jóia que vale a pena ser apreciada até o final, e de novo e mais uma vez: não cansa nunca, enleva e nos faz sorrir aquele sorriso das crianças encantadas.

Ofereço ao balseiro Edu Campos ("até a margem do grande rio", ali ao lado linkado), fotógrafo como Humberto Mauro, recém chegado de uma aventura por outras matas que não as de Minas, mas que imagino igualmente mágicas, cheias de bois, e cachorros, e aranhas e de velhas a fiar...



Obs.: o ator é Matheus Collaço e a música, de nosso folclore, é intrepretada pelo Trio Irakitã. Delícia pura!

7 de dezembro de 2009

Qual é o limite da estupidez humana?

Está a todo vapor a construção da Companhia Siderúrgica do Atlântico(CSA), um mega complexo siderúrgico em Santa Cruz, às margens da Baía de Sepetiba (RJ), cuja meta é a produção de 5 milhões de toneladas de placas de aço por ano.
O empreendimento, previsto para começar a operar em meados de 2010, vai gerar 3.500 empregos diretos e mais uns 10 mil indiretos, o que, convenhamos, não é pouca coisa.


O problema, que também não é pouca coisa, está no "detalhe" de que, quando em pleno funcionamento, vai emitir 9,7 toneladas de CO2 eq/ano, 12 vezes mais que a totalidade das outras industrias do Rio checadas em 1998.

Essa informação me chegou pelo site do PV: ao saber dessa história durante um jantar com o Sirkis (presidente do Partido Verde no Rio), Daniel Cohn-Bendit, o lider dos verdes no Parlamento Europeu, disse, entre chocado e perplexo: "Isso é algo enorme, vamos investigar se houve alguma burla direta ou indireta de normas da União Européia. São gases de efeito global, tanto faz se são emitidos na Alemanha, no Brasil ou na Nigéria”.

É impressionante que até hoje esse tipo de "descuido" ainda ocorra no mundo. Sinais de catástrofes irrevogáveis, ou melhor, sinais, não, catástrofes mesmo, espocando em tudo que é canto por causa da poluição e do efeito estufa, e esse débil ser Humano insiste em continuar a poluir desmesuradamente. E, é bom que se lembre, a CSA é da Thyssen Krupp, que pretende exportar para suas fábricas alemãs e americanas o aço aqui produzido... Putz! Depois de acabarem com suas florestas, los gringos vêm pra cá para terminar com as nossas?! É isso mesmo, ou eu é que sou ignorante demais para pensar hiper-mega-super-empreendimentos?

O cérebro pode delatar uma pessoa?

Assistindo ontem às lamentáveis cenas de violência das torcidas de futebol, engatei uma interessante conversa com uma amiga sobre os motivos de tais atos. E como "livre pensar é só pensar", acabamos descambando para neurociência, experimentos nazistas, os filmes "Gátaca" e "Minority Report", e toda sorte de suposições (pseudo)científicas.
Lembrei-me, então, de um texto que li já há alguns meses e que, sabe-se lá porque, guardei aqui no computador. Como acho sempre interessante tais divagações, essa idéia de que um dia a ciência há de controlar nossas vidas, emoções, desejos e que tais, ei-lo um pouquinho editado para não ficar demais...

“A intimidade do pensamento está em risco. Novas técnicas para ler a mente reforçam o detector de mentiras para acusados e empregados.

Até agora foi uma possibilidade mais ou menos remota e mais ou menos incômoda. Mas um tribunal da Índia a transformou em realidade: em junho, uma mulher foi condenada por assassinato depois que o juiz aceitou como prova o resultado de um detector de mentiras cerebral. A acusada - que se declara inocente e se submeteu voluntariamente ao teste - não precisou abrir a boca; seu cérebro supostamente disse tudo, e acabou inculpando-a. A maré de reações não se fez esperar, entre outras coisas porque a notícia cai em campo fértil.

Nos últimos anos empresas americanas anunciaram a intenção de oferecer esse serviço, por isso os neurocientistas e especialistas em ética e em direito há algum tempo se perguntam se a técnica é confiável... e não só isso. O que mais se poderia ler no cérebro, além da mentira? É um avanço ou um perigo?

A neuroética já se considera uma nova disciplina. Na publicação científica de mesmo nome, "Neuroethics", analisa-se desde a responsabilidade penal dos viciados até o uso de medicamentos para alterar a memória - há pelo menos um caso real: uma mulher escutou na mesa de cirurgia o grave diagnóstico do câncer que sofria, e o anestesista apagou deliberadamente e com sucesso a memória da paciente.



Javier Cudeiro, do grupo de Neurociência e Controle Motor da Universidade de La Coruña, diz que recorrer aos rastreadores cerebrais para detectar mentiras hoje é "conceitualmente semelhante" ao uso da frenologia há dois séculos, quando se analisava a personalidade de um indivíduo medindo os relevos de seu crânio - molde dos vultos que no cérebro abrigariam sentimentos como amor, ódio ou sentido de justiça.

Isso já responde à primeira pergunta da lista: não, atualmente nenhuma técnica de detecção de mentiras e confiável. Mas não só as baseadas na neurociência. Também não é seguro o polígrafo nem os movimentos involuntários dos olhos, nem a medição da temperatura do rosto, entre outras técnicas variadas a que já se recorreram - a Inquisição dava pão e queijo a suas vítimas; caso se engasgassem era porque tinham a boca seca e portanto mentiam. Essa é a opinião majoritária da comunidade científica internacional.

Os rastreadores cerebrais para detectar mentiras partem do princípio de que o cérebro trabalha mais para mentir. Mas e se o suspeito acreditar que um fato falso é verdadeiro? Se um psicopata sem qualquer remorso engana tranqüilamente um polígrafo, o que dizer de um cérebro com falsas lembranças? "Os resultados seriam muito diferentes se o suspeito fosse um neurótico ou um psicopata; o primeiro pode tender a se autoculpar, e o segundo nem se emociona com a lembrança do caso. Se já é difícil saber a verdade com palavras, por que esperam que seja mais fácil registrando a atividade cerebral?", diz José María Delgado García, neurofisiologista da Universidade Pablo de Olavide.



Com tanto em contrário, pode-se dizer que a idéia de apanhar um mentiroso pelo cérebro deveria estar enterrada. Mas é o contrário. E o comprovam fatos relacionados, como o de que os principais usuários do polígrafo nos EUA sejam as agências de segurança e defesa, que submetem seus empregados ao teste. Segundo o jornal "The International Herald Tribune", o Pentágono - que conta com um instituto especializado em técnicas de detecção de mentiras, como o próprio polígrafo - pretende provar a sinceridade de 5.700 empregados e aspirantes a cada ano. Para isso deverá recorrer pela primeira vez à terceirização. A lei que proíbe que as companhias americanas demitam ou selecionem seus funcionários com base no polígrafo não afeta os funcionários públicos. Então qual é a diferença entre o caso na Índia e as duas empresas americanas que comercializam serviços de detecção de mentiras com rastreadores cerebrais? Nenhum tribunal aceitou até hoje suas técnicas, muito menos em um caso de assassinato. Mas isso não foi necessário para que elas começassem a ganhar dinheiro.


Restam outras perguntas. E se a técnica realmente chegasse a ser confiável? Isso poderia acontecer...




...o problema hoje está na complexidade da informação a se processar, mas não existe um obstáculo fundamental, diz Agnés Gruart, neurocientista da Universidade Pablo de Olavide. "O cérebro funciona pela ativação de determinados circuitos cerebrais em um tempo e uma ordem determinados, por isso é perfeitamente correto que alguém determine através de técnicas de neuroimagem ou semelhantes onde ocorre essa ativação, e suas características. O problema é que ainda não podemos interpretar esse funcionamento de forma precisa. Todo o comportamento e o pensamento são produzidos no cérebro; com mais informação e refinamento técnicos, poderia chegar a descrever como são gerados o comportamento e o pensamento."

Cudeiro também diferencia entre hoje e depois de amanhã: "É possível que em um futuro não distante sejamos capazes de encontrar os correlatos neurais da intenção ou da verdade. Na atualidade a incerteza dos dados ainda não o permite".

É fácil imaginar: nos aeroportos não seria preciso abrir malas, mas o cérebro - isso sim, o equipamento teria de mudar muito. Fazer hoje uma ressonância magnética não é um processo rápido nem cômodo, nem para todo mundo. Talvez também não seriam necessários jurados, e a polícia teria dispositivos portáteis.

Para Javier Sádaba, diretor do Instituto de Bioética e Humanidades Médicas, "a modificação da vida seria bastante considerável". Mas na opinião dele é um cenário verossímil: "Estamos entrando no cérebro a uma velocidade surpreendente, os avanços são espetaculares e colocam questões estritamente morais relacionadas à intimidade". Para Sádaba, seria preciso estabelecer limites para o uso dessas tecnologias, mas deveria primar o bem comum: "Imaginemos que a vida de 200 pessoas dependa de se alguém mente. Não haveria qualquer inconveniente em recorrer a essas técnicas".


Mónica Salomone
Fonte: El País
créditos:
Tela "Lição de Anatomia", de Rembrandt
Foto: José Roberto Arruda, de Valter Campanato

3 de dezembro de 2009

Ziriguidum!

A essas alturas, já foi (ontem) o Dia do Samba, mas não deu tempo de chegar antes. Então...
Pra não deixar passar em branco, até porque "samba é coisa de preto", fica aqui a prova cabal de que o samba não morrerá mesmo: duas gerações, dois timings diferentes, e ele continua vivo e pulsante, sacudindo as cadeiras, remelexendo "do cóxis ao pescoço"...
Mesmo que, e por isso mesmo, se enroscando gostoso com outros estilos...



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2 de dezembro de 2009

A Praga de Rubem

Ontem fui caminhar na praia. Em Copacabana, onde moro, onde morou meu pai, minha mãe, meus avós, bisavós, tataravós. Onde moram tios e primos. Onde nasci e me criei.
Andei pela milionésima vez naquelas areias grossas, mergulhei com intimidade no mesmo marzão frio como se ali fosse a piscina da minha casa e mais uma vez me encantei com o recorte do horizonte, Niterói lá longe...

Estava tudo calmo, as gaivotas em alvoroço perto da Colônia de Pescadores, o Drumond em bronze ali sentado com seus óculos quebrados pela metade, frescobol rolando, futebol, cachorros, velhos, gente correndo, sol aparece-desaparece. Calor!

Hoje acordei, abri o jornal e...mais uma "operação pacificadora" da polícia transformou, ontem, a Av, Copacabana em caos completo na altura do Posto 5, nas cercanias da favela Pavão-Pavãozinho.


Não pude deixar de me lembrar da "maldição" lançada pelo cronista que, apesar de capixaba, melhor escreveu sobre a cidade que tanto amou...

"1. AI DE TI, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera de teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as entranhas.

2. Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras; e deste risadas ébrias e vãs no seio da noite.

3. Já movi o mar de uma parte e de outra parte, e suas ondas tomaram o Leme e o Arpoador, e tu não viste este sinal; estás perdida e cega no meio de tuas iniqüidades e de tua malícia.


6. Grandes são teus edifícios de cimento, e eles se postam diante do mar qual alta muralha desafiando o mar; mas eles se abaterão.

6. E os escuros peixes nadarão nas tuas ruas e a vasa fétida das marés cobrirá tua face; e o setentrião lançará as ondas sobre ti num referver de espumas qual um bando de carneiros em pânico, até morder a aba de teus morros; e todas as muralhas ruirão.

8. Então quem especulará sobre o metro quadrado de teu terreno? Pois na verdade não haverá terreno algum.

9. Ai daqueles que dormem em leitos de pau-marfim nas câmaras refrigeradas, e desprezam o vento e o ar do Senhor, e não obedecem à lei do verão.

10. Ai daqueles que passam em seus cadilaques buzinando alto, pois não terão tanta pressa quando virem pela frente a hora da provação.


12. Uivai, mancebos, e clamai, mocinhas, e rebolai-vos na cinza, porque já se cumpriram vossos dias, e eu vos quebrantarei.}

13. Ai de ti, Copacabana, porque os badejos e as garoupas estarão nos poços de teus elevadores, e os meninos do morro, quando for chegado o tempo das tainhas, jogarão tarrafas no Canal do Cantagalo; ou lançarão suas linhas dos altos do Babilônia.

14. E os pequenos peixes que habitam os aquários de vidro serão libertados para todo o número de suas gerações.

15. Por que rezais em vossos templos, fariseus de Copacabana, e levais flores para Iemanjá no meio da noite? Acaso eu não conheço a multidão de vossos pecados?

16. Antes de te perder eu agravarei s tua demência — ai de ti, Copacabana! Os gentios de teus morros descerão uivando sobre ti, e os canhões de teu próprio Forte se voltarão contra teu corpo, e troarão; mas a água salgada levará milênios para lavar os teus pecados de um só verão.


19. Pois grande foi a tua vaidade, Copacabana, e fundas foram as tuas mazelas; já se incendiou o Vogue, e não viste o sinal, e já mandei tragar as areias do Leme e ainda não vês o sinal. Pois o fogo e a água te consumirão.

20. A rapina de teus mercadores e a libação de teus perdidos; e a ostentação da hetaira do Posto Cinco, em cujos diamantes se coagularam as lágrimas de mil meninas miseráveis — tudo passará.

21. Assim qual escuro alfanje a nadadeira dos imensos cações passará ao lado de tuas antenas de televisão; porém muitos peixes morrerão por se banharem no uísque falsificado de teus bares.

22. Pinta-te qual mulher pública e coloca todas as tuas jóias, e aviva o verniz de tuas unhas e canta a tua última canção pecaminosa, pois em verdade é tarde para a prece; e que estremeça o teu corpo fino e cheio de máculas, desde o Edifício Olinda até a sede dos Marimbás porque eis que sobre ele vai a minha fúria, e o destruirá. Canta a tua última canção, Copacabana!
"

Ai de Ti Copacabana (fragmentos)
Rubem Braga
1958
(as fotos são de ontem mesmo. Fonte: O Globo)

1 de dezembro de 2009

Os Homens e suas bolas...

Confesso que a última grande e significativa memória rubro negra que ainda conseguem guardar meus estafados neurônios é a vitória sobre o Atlético Mineiro, quando Nunes fez o terceiro e decisivo gol aos 45 minutos do segundo tempo, em pleno Maracanã abarrotado -uns 150 mil pagantes?- levando o Mengão ao título de campeão brasileiro de 1980!

De lá pra cá, saiu Zico, saíram Junior, Adílio, Tita, e o futebol pra mim se transformou numa caixinha de nadas, a não ser em Copas do Mundo, mais pela zorra, do que pela paixão.

Mas eis que esse campeonato atual se tornou excitante! É muita competição ao mesmo tempo: quem desce, quem sobe, quem é campeão brasileiro, quem vai pra Copa das Américas, ou algo assim.

Nesse último domingo, então, eram três tvs ligadas ao mesmo tempo, cada uma em um canal, cada uma em um jogo diferente. Vi-me, novamente, refém de 22 homens correndo atrás de uma bola! E o melhor: à exceção dos pobres botafoguenses, o Rio virou uma festa só...

Enfim, tudo isso pra dizer apenas, e conclusivamente, DÁ-LHE MENGÃO! O HEXA É NOSSO! E pra colocar nesse blogue um poster recebido via e-mail que me parece inspirado num pintor por mim muito admirado: Rubens Gerchman, um grande artista apreciador do (pop) futebol: