26 de novembro de 2009

Herr Brasilien

Em 17 de Outubro um helicóptero foi abatido por bandidos/traficantes no Morro São João, ali pertinho do já mundialmente famoso Morro dos Macacos. Nesse mais do que lamentável episódio, três policiais morreram.
Operações militares, então, começaram a acontecer na área e deixaram, até o momento, um saldo de 40(!) mortos e um número não calculado de feridos.

Essa informação me bateu muito mais como o resultado de uma política pública voltada para o extermínio e baseada na criminalização da pobreza, do que como uma ação estudada com inteligência e colocada em prática com competência: uma ação multidisciplinar, que não pensasse apenas que "retirar de circulação os elementos transgressores" vai erradicar o Crime maior e mais daninho que é o extermínio da Esperança e do Futuro.

O que me entristece (e atemoriza) é perceber que esse tipo de "ação" encontra cada vez mais simpatizantes na sociedade civil, que se paraliza acuada em suas casas na espera de ser a bola da vez na sinuca da violência urbana.

Barbárie deve ser isso: o Medo paralisando o cérebro e o coração. O salve-se quem puder absoluto. O "farinha pouca, meu pirão primeiro" instalado como Instituição. A Vingança como única forma legítima de salvação e defesa perante a Violência.


Isso tudo me remete à um texto escrito pela judia/polonesa/socialista/revolucionária Rosa Luxemburg lá nos idos de 20, estranhamente(?) atual e oportuno...



(meu Deus, será que estamos nos aproximando da Alemanha pré-nazista? Será que o Ovo da Serpente está sendo engendrado também em terras tupiniquins?!)

"...Ninguém pensou até agora nos milhares de figuras pálidas e macilentas que definham anos a fio atrás dos muros de prisões e penitenciárias expiando crimes comuns.

E no entanto são vítimas infelizes da infame ordem social contra a qual a revolução se dirigiu; são vítimas da guerra imperialista, que levou a miséria e a desgraça aos extremos da mais insuportável tortura; que, ao custo de uma carnificina brutal, desencadeou em naturezas fracas, dotadas de taras hereditárias, os instintos mais vis.

A justiça de classe burguesa funcionou mais uma vez como uma rede que deixa tranquilamente escapar de suas malhas os tubarões rapaces enquanto as pequenas sardinhas nelas se debatem desamparadas. Os especuladores, que ganharam milhões com a guerra, ficaram na sua maioria impunes ou receberam penas pecuniárias ridículas; os pequenos ladrões e as pequenas ladras são punidos com penas de prisão draconianas.

(...)

O sistema penal existente, profundamente impregnado de um brutal espírito de classe e da barbárie do capitalismo, precisa ser extirpado de vez. É preciso começar imediatamente uma reforma de base do sistema penal. É evidente que uma reforma totalmente nova, no espírito do socialismo, só pode ser estabelecida sobre o fundamento de uma nova ordem econômica e social, pois tanto crimes quanto castigos estão em última instância enraizados nas condições econômicas da sociedade..."

Um Dever de Honra (fragmento)
Tradução de Isabel Loureiro