30 de novembro de 2009

Ê boi...

As fotos abaixo vieram da balsa "até a margem do grande rio", de Edu Campos (link ali ao lado, ainda não consegui fazer links diretos, sou lenta como as vacas...), que mui gentilmente permitiu que as colocasse aqui.

Estava esperando uma oportunidade para usá-las de uma forma mais...ahn...grandiloquente, mas me deu uma vontade danada de embelezar esse modesto blog hoje, domingão regado a vinho bom acompanhando um rosbife dos deuses (e que, por isso, me perdoem os bois).

Adoro vaca, boi, bezerros. Adoro seus olhos, o mastigar lento, a generosidade das tetas. Aquele andar macio de quem não tem pressa de nada...

E adorei as fotos do Edu, esse (des)conhecido que me dá a honra de, volta e meia, passear por aqui.
Thanks, E.







PS: não sou das mais chegadas à músicas sertanejas contemporâneas, mas confesso uma queda pelas antigas, como a que posto aqui e que me leva de volta à muitas violas encharcadas de cachaça, lá em terras das Minas Gerais...

29 de novembro de 2009

Pra você, imã da madrugada...



"... Mas só muito mais tarde, como um estranho flash-back premonitório, no meio duma noite de possessões incompreensíveis, procurando sem achar uma peça de Charlie Parker pela casa repleta de feitiços ineficientes, recomporia passo a passo aquela véspera de São João em que tinha sido permitido tê-lo inteiramente entre um blues amargo e um poema de vanguarda. Ou um doce blues iluminado e um soneto antigo. De qualquer forma, poderia tê-lo amado muito. E amar muito, quando é permitido, deveria modificar uma vida – reconheceu, compenetrado. Como uma ideologia, como uma geografia: palmilhar cada vez mais fundo todos os milímetros de outro corpo, e no território conquistado hastear uma bandeira. Como quando, olhando para baixo, a deusa se compadece e verte uma fugidia gota do néctar de sua ânfora sobre nossas cabeças. Mesmo que depois venha o tempo do sal, não do mel. ..."

Os dragões não conhecem o paraíso (fragmento)
Caio Fernando Abreu

28 de novembro de 2009

O Rio é lindo até em preto e branco...

Mais uma blogagem coletiva, desta vez lá da terra mãe, lá d'além mar, lá de Portugal querido, ó pá...
A proposta é "Preto e Branco", do blog Fábrica de Letras. Carioca da gema orgulhosa e nostálgica que sou, aqui segue minha contribuição...



27 de novembro de 2009

Rock + Anime

Muse é uma banda britânica de rock "alternativo" não muito divulgada por aqui, mas que está na estrada há 15 anos e já vendeu mais de 8 milhões de discos. Algumas de suas músicas me lembram um pouco o U2, pela bateria pesada, outras o Queen, pelo tom operístico e melodramático dos arranjos e do vocalista Matthew Bellamy.
Lançaram em Setembro o seu quinto álbum de estúdio, The Resistance.

Alguém teve a feliz idéia de unir uma das músicas desse álbum, "Exogenesis: Part 3", com uma série em animação japonesa intitulada Wolf's Rain.
Achei bonito...



Obs.: O enredo da série me parece simpático, apesar do texto confuso da Wikipédia: A história trabalha com muitos símbolos e conta que no futuro a sociedade humana começará a se estagnar e buscará soluções para sua existência. Existe a lenda de um paraíso que ainda guardaria boas condições de vida, mas este paraíso só estaria ao alcance dos lobos, que já estão extintos há mais de 200 anos.

As tensões da trama se desenvolvem em cima dos lobos, que na verdade não se extinguiram, e se disfarçam de humanos, usando um tipo de ilusão para serem vistos como humanos pelos humanos, para continuarem sua busca pelo paraíso sem serem incomodados. A sua relação com os humanos fica mais próxima quando os últimos criam Cheza, a Filha da Lua, uma humana criada artificialmente através de uma Flor, a Flor da Lua.

Ça va sans dire...

O que nos aguarda em 2010

26 de novembro de 2009

Herr Brasilien

Em 17 de Outubro um helicóptero foi abatido por bandidos/traficantes no Morro São João, ali pertinho do já mundialmente famoso Morro dos Macacos. Nesse mais do que lamentável episódio, três policiais morreram.
Operações militares, então, começaram a acontecer na área e deixaram, até o momento, um saldo de 40(!) mortos e um número não calculado de feridos.

Essa informação me bateu muito mais como o resultado de uma política pública voltada para o extermínio e baseada na criminalização da pobreza, do que como uma ação estudada com inteligência e colocada em prática com competência: uma ação multidisciplinar, que não pensasse apenas que "retirar de circulação os elementos transgressores" vai erradicar o Crime maior e mais daninho que é o extermínio da Esperança e do Futuro.

O que me entristece (e atemoriza) é perceber que esse tipo de "ação" encontra cada vez mais simpatizantes na sociedade civil, que se paraliza acuada em suas casas na espera de ser a bola da vez na sinuca da violência urbana.

Barbárie deve ser isso: o Medo paralisando o cérebro e o coração. O salve-se quem puder absoluto. O "farinha pouca, meu pirão primeiro" instalado como Instituição. A Vingança como única forma legítima de salvação e defesa perante a Violência.


Isso tudo me remete à um texto escrito pela judia/polonesa/socialista/revolucionária Rosa Luxemburg lá nos idos de 20, estranhamente(?) atual e oportuno...



(meu Deus, será que estamos nos aproximando da Alemanha pré-nazista? Será que o Ovo da Serpente está sendo engendrado também em terras tupiniquins?!)

"...Ninguém pensou até agora nos milhares de figuras pálidas e macilentas que definham anos a fio atrás dos muros de prisões e penitenciárias expiando crimes comuns.

E no entanto são vítimas infelizes da infame ordem social contra a qual a revolução se dirigiu; são vítimas da guerra imperialista, que levou a miséria e a desgraça aos extremos da mais insuportável tortura; que, ao custo de uma carnificina brutal, desencadeou em naturezas fracas, dotadas de taras hereditárias, os instintos mais vis.

A justiça de classe burguesa funcionou mais uma vez como uma rede que deixa tranquilamente escapar de suas malhas os tubarões rapaces enquanto as pequenas sardinhas nelas se debatem desamparadas. Os especuladores, que ganharam milhões com a guerra, ficaram na sua maioria impunes ou receberam penas pecuniárias ridículas; os pequenos ladrões e as pequenas ladras são punidos com penas de prisão draconianas.

(...)

O sistema penal existente, profundamente impregnado de um brutal espírito de classe e da barbárie do capitalismo, precisa ser extirpado de vez. É preciso começar imediatamente uma reforma de base do sistema penal. É evidente que uma reforma totalmente nova, no espírito do socialismo, só pode ser estabelecida sobre o fundamento de uma nova ordem econômica e social, pois tanto crimes quanto castigos estão em última instância enraizados nas condições econômicas da sociedade..."

Um Dever de Honra (fragmento)
Tradução de Isabel Loureiro

25 de novembro de 2009

Analogias ainda buzianas d'outrora

Nesse revival buziano, a banda inglesa The Smiths, ícone dos 80's, naturalmente me veio à cabeça (e à saudade...). Seu som beirando o soturno, "dark", como se dizia à época, é, paradoxalmente, a cara daquela estrada, das festas esfumaçadas de maresia à beira do mar de Armação, das caminhadas noturnas de Geribá à Ferradurinha, de tantos PFs de peixe divididos no Barbuda...

Com a palavra, o Deus Tube (e essa analogia tubeana agradeço ao amigo balseiro Edu Campos):



E rola a bola, a nota re-toca, e o mundo roda também. Do mesmo Tubo divino, Radiohead, a banda que volta-e-meia-volta à esse nostálgico blog, sempre a me enlevar, em estúdio, declarando seu amor pelo mesmo Smiths.
A do rei!

24 de novembro de 2009

I Love Búzios, ainda...

Búzios, para quem não conhece, é uma península com 23 praias, localizada a cerca de 190 km do Rio (foto no post abaixo). Frequento o lugar há mais de 20 anos e não consigo deixar de ser feliz ali. Existe qualquer coisa mágica naquelas praias, nos ares da maresia, no vento que quase nunca descansa. Nas cores.
Definitivamente, o sol brilha diferente ali.

Mas, como o Sofrimento é meu fiel companheiro, também não consigo evitar uma pontada no coração a cada retorno: o que estão fazendo com a região é um crime, literalmente: Búzios é uma área de restingas especialíssima, tem um tipo de Mata Atlântica que se forma em solo arenoso, já ameaçado de extinção, e está sendo destruída cada vez mais rápida e ferozmente.

Com o fato do ser humano, gafanhoto que é, precisar ocupar os paraísos, já me conformei. O que não dá para aguentar é a burrice especulatória, a sôfrega ganância acima de tudo. Pegam os terrenos nas encostas e constroem em, digamos, 1000m quadrados, onde deveria, no máximo, caber uma casa de 100 metros de área construída, verdadeiros monumentos ao mau gosto de três, cinco andares, sem deixar uma árvorezinha sequer para dar um "colorido" na paisagem. E ainda fazem "gramados" onde antes havia mata cheia de passarinhos.

É casa sobre casa mesmo, principalmente nas regiões de Geribá, a mais famosa e badalada praia, Ferradurinha, sua vizinha já "ferrada" para sempre, e João Fernandes, onde sequer conseguimos chegar na areia, dada a quantidade de hotéis cafonas e suas mesinhas e ombrelones pelo caminho. Sem falar de Armação, o "centro nervoso", famoso por ter hospedado Brigitte Bardot lá nos 60's, em cujas águas não mais tenho coragem de mergulhar.

E olha que Búzios foi reconhecida pela União Internacional para Conservação de Natureza como um Centro Mundial de Diversidade Vegetal, título concedido a poucos lugares no mundo que resguardam espécies raras e ameaçadas. Aquela vegetação abriga nada menos que 20 espécies de orquídeas endêmicas e tem um tipo único de cactos que está dando lugar a coqueiros ornamentais e que tais. Putz!

Búzios sofreu diversas invasões de franceses, holandeses e ingleses, e resistiu. Já foi base de piratas, serviu como ponto estratégico para o tráfico de escravos, e resistiu. Viu seu pau-brasil ser praticamente extinto, e resistiu.
Quanto tempo mais será que vai resistir à invasão argentina e à sanha demolidora dos tratores ensandecidos?

Abaixo, dois videos que encontrei no Youtube (um deles em Super-8! Uma delícia...) e que servem como uma mostra do que era e do que é hoje, 30 anos depois, a praia de Geribá. Reparem que não havia nada, a não ser poucas casinhas de pescadores, na beira da praia e nas encostas. Sugestão? Assistam aos dois ao mesmo tempo.

PS: Apesar disso tudo...ai, que vontade de voltar!



19 de novembro de 2009

O destino é apenas a desculpa...


-É roubada. Roubadaça das boas.
-E daí? Roubada maior é a Permanência.



Nada como a promessa de uma estrada para derreter minhas convicções.

Então, até a volta, depois do Grande Engarrafamento...

"Sou uma chama ascendendo, mas ascendo para baixo e para cima,
Ascendo para todos os lados ao mesmo tempo, sou um globo
De chamas explosivas buscando Deus e queimando
A crosta dos meus sentidos, o muro da minha lógica,
A minha inteligência limitadora e gelada..."

A melhor maneira de viajar é sentir (fragmento)
Álvaro de Campos

18 de novembro de 2009

A relatividade segundo meu amigo HB


"Testei o Homem. É inconsistente."
Albert Einstein

"Testei a Mulher. É com sistite."
Humberto Borges

17 de novembro de 2009

Cem vezes salve!!!!

Viajando por esses rincões virtuais, eis que me deparo com a pérola de video que segue abaixo. Vale a pena dar uma conferida e chegar até o final. Esse pitéu permite um manancial de leituras: moda, padrões de beleza, estilo linguístico, História (nosso ufanismo brazuca está mesmo no DNA...).
E que texto, meu Deus, que locução!
Não sei quanto a vocês aí, mas eu, no alto de minha profunda ignorância, desconhecia totalmente a existência dessa que se tornou nossa primeira Miss Universo: a gaúcha de Pelotas, Yolanda Pereira.
Reproduzo aqui a informação wikipediana:
"O concurso de Miss Universo, chamado na época de "Concurso Internacional de Beleza", foi realizado no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. O país tinha seus jurados em desvantagem, e o resultado final estava na dependência dos jurados europeus, sendo que a favorita era a Miss Portugal. Mas, para alegria dos brasileiros, a escolhida foi Yolanda. Em agosto de 1930 (algumas fontes indicam o dia 7 de setembro) Yolanda foi proclamada Miss Universo. O parecer da comissão julgadora levou em conta quesitos como beleza, graça, equilíbrio, proporção, formas e distinção. Os jurados também estiveram atentos ao tipo étnico e à visão do conjunto."



Yolanda morreu em 2001, aos 90 anos.

16 de novembro de 2009

Recordar ameniza...

O Rio está parecendo a úmida Londres e os cariocas, encharcados de suor e chuva, começam a andar encurvadas e possessos com a falta de sol, com as nuvens que nublam a paisagem. No fim do túnel, só as enchentes (e São Paulo mais além...).
Estamos deprimindo.

Então...

Em homenagem à chuva que não para,
em homenagem ao cinema
e aos homens bonitos...



Boa semana a todos.
Glub glub.

13 de novembro de 2009

Para você, imã da madrugada...



"...Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço..."

Para uma Avenca Partindo (fragmento)
Caio Fernando Abreu

12 de novembro de 2009

Putz!

Eu hoje acordei assim...



Passei o dia assim...



E agora estou assim!!!!!

Back to past

Nessa onda de recordar antigas brincadeiras (vide post abaixo), resgatei, também, ondas sonoras perdidas em algum lugar do meu passado.
E Billy Paul é um que se faz presente agora, principalmente por essa música, que tocava sem parar na minha "eletrola", lá no início dos 70's.
Por que será que, hoje, me dá vontade de chorar?



E por que essa outra ainda me faz sair dançando alegremente?
Ah, os estranhos e desconhecidos caminhos da memória afetiva...

10 de novembro de 2009

Topando a brincadeira

Adorei a proposta de uma blogagem coletiva lançada pelo VOU DE COLETIVO. E o tema desse mês é "Brinquedos: dos mais antigos aos mais recentes".
Como o passado me apetece, de cara me transportei no tempo a lembrar de velhas brincadeiras, como a de amarrar lençóis pelo quarto, de modo a transformá-lo numa grande tenda. Ficava ali, fazendo quase nada, a não ser simplesmente estar naquele espaço meio útero, meio caverna, esperando a hora em que a fantasia era obrigada a ceder lugar para o jantar, ou, pior ainda, para o banho. Às vezes essa caverna se transformava no Banco do Brasil e eu me tornava uma bancária a carimbar papéis roubados do escritório de meu pai. Vai entender a mente de uma criança...


Lembro também de muitos carrinhos match box, de autoramas, de uma mini aldeia de índios, cheia de bonequinhos e cabanas, que ficava no "quarto proibido" da casa de meus primos maternos, meninos "mais velhos" que não curtiam nem um pouco as incursões curiosas (e por vezes destruidoras) da priminha pentelha.

E tinha pingue-pongue, pique-bandeira e queimado. Ai, que delícia jogar queimado, meu Deus! Seria capaz de jogar ainda hoje, convidada fosse. E de patins, skate, e um tipo de velocípede que era como uma pequena carroça atrelada a um cavalinho de gesso, onde ficavam os pedais.


E, claro, mas não tão importantes, algumas bonecas também, como a coitada da Suzie, solteirona e solitária avó da assanhada Barbie.


E subia em árvores no quintal de casa (em plena Copacabana, imaginem!), soltava pipa e andava de bicicleta Monareta, que costumava virar de cabeça para baixo e transformar num carrinho de pipoca imaginário...


Tempos depois, a velha e indefectível "pera, uva e maçã" me deixava tensa ante a possibilidade do primeiro beijo na boca...Êta gostosura!

Nossa! Quantas memórias guardadas e abandonadas nesse disco rígido de minha cabeça! Há quanto tempo que eu não as visitava...
Valeu, VOU DE COLETIVO, por me fazer resgatar tantos risos. E tantas amizades que já não cultivo, mas que, raízes, são o que, hoje, me fazem "eu".

9 de novembro de 2009

Chupado do Todo Prosa



À despeito do post abaixo, não posso me furtar a compartilhar essa pérola que meu querido Ricardo Soares encontrou no iutube.
Tudo de bom, até porque derruba, na mais pura linha do "eu te admiro mas odeio qualquer unanimidade", esses mitos incontestes construídos pela mídia.
Caetano é gênio, sim, mas não intocável.
E em nome do humor inteligente, convenhamos, tudo vale a pena.
Divirtam-se.

6 de novembro de 2009

Me ufano de Caetano, sim!

E eis que novamente Caetano Veloso ocupa as primeiras páginas dos jornais e cruza oceanos, chegando até a blogs de além-mar. Suas opiniões sempre soam retumbantes e incomodam. Nossa, como incomodam! Quando se mete a falar de política, então...

Seja a discorrer sobre Lula, bananas, ou Woody Allen, é impressionante a capacidade que esse homem tem de chamar atenção, ou melhor, de atrair a atenção. Praticamente uma Madonna dos trópicos...

Mas já passei da fase de reclamar que ele fala demais. Agora, eu relaxo. E gozo. Mais pela polêmica e pelo frison que provoca, do que propriamente pelo que diz- apesar de que fatalmente me pego, no mínimo, pensando seriamente em suas palavras e, muitas vezes, concordando veementemente.

Enfim, esse post aqui é só para lembrar rapidamente aos críticos ferozes e implacáveis, aqueles que misturam as opiniões do homem com seu fazer artístico, que Caetano é genial, sim, basta que revisitem sua obra para constatar. Respeitem, pois, os cabelos brancos desse recém-nascido velho que há mais de 40 anos nos brinda com as músicas mais lindas, os poemas mais doces e os pensamentos mais concretos...

Abaixo, à título de ilustração, uma música que sempre me emociona, composta em homenagem a seu pai e a Mick Jagger.

(E aqui me despeço. Meu tchauzinho. So long, até a volta de um fim de semana a la campagne).


O Homem Velho
(Caetano Veloso)

O homem velho deixa a vida e morte para trás
Cabeça a prumo, segue rumo e nunca, nunca mais
O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais
O homem velho é o rei dos animais

A solidão agora é sólida, uma pedra ao sol
As linhas do destino nas mãos a mão apagou
Ele já tem a alma saturada de poesia, soul e rock’n’roll
As coisas migram e ele serve de farol

A carne, a arte arde, a tarde cai
No abismo das esquinas
A brisa leve traz o olor fulgaz
Do sexo das meninas

Luz fria, seus cabelos têm tristeza de néon
Belezas, dores e alegrias passam sem um som
Eu vejo o homem velho rindo numa curva do caminho de Hebron
E ao seu olhar tudo que é cor muda de tom

Os filhos, filmes, ditos, livros como um vendaval
Espalham-no além da ilusão do seu ser pessoal
Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual
Já tem coragem de saber que é imortal

5 de novembro de 2009

Devaneios amigos

Quando eu era criança, costumava ficar pensando em lugares e épocas que gostaria de visitar caso pudesse viajar no tempo (desnecessário dizer que era fã incondicional do seriado "Túnel do Tempo"). Sempre me vi duquesa numa França pré-revolucionária a cavalgar pela Campagne com aqueles vestidos rodados, o castelo ao fundo, cachorros ao redor, o chapéu emplumado ligeiramente inclinado... Trés chic.

Uma outra viagem seria para o Rio de Janeiro, lá pelos idos do século XV, XVI, pré-colonial mesmo, com sua natureza intacta, a Lagoa quase se unindo ao mar, os mangues, os laranjais, tantos limoeiros e quantas gaivotas...Isso talvez por influência de meu pai, da família toda - somos carioquérrimos há pelo menos 7 gerações - e de tantas fotos e livros sobre o Rio antigo que até hoje insistem em pular das estantes diretamente para meu colo.

Enfim, sempre viajei nas impossibilidades e sempre fiz da imaginação o meu melhor meio de transporte.

De uns tempos para cá, comecei a imaginar amigos. Não exatamente amigos invisíveis, ou inexistentes, como os das crianças solitárias, mas amigos de carne e osso, estejam eles vivos, ou não. Explico melhor: existem pessoas na História, de todos os tempos, de quem gostaria de ser amiga, com quem gostaria de conviver. Exemplos?


Maria Antonieta. A-do-ra-ria frequentar o Petit Trianon, vestir aqueles modelitos, tomar chá à tarde, passear pelo jardim e flertar pelos salões de Versailles (pensem, porém, que em meus delírios tudo é belo, nada cheira mal, os dentes são perfeitos e há croissants para todos!).


Outro exemplo?


Elke Maravilha. Seria ótimo partilhar de sua exuberante alegria, ouvir seus causos, experimentar suas roupas lindas, suas perucas loucas, ouví-la declamar poesias, ainda que em russo.

E tem também os Novos Baianos (quantas viagens faríamos!), Freud (ficar ouvindo suas divagações sobre a psiquê humana...que delícia!), Charles Chaplin (só para frequentar os sets de filmagens), Scott Fitzgerald (ai, quantas festas, quantos espocares de champanhe!!).

Mas talvez o meu maior e mais querido amigo imaginário seja mesmo o Oscar Wilde. Como eu gosto desse cara! Tenho certeza de que nos daríamos muito bem. Em primeiro lugar, porque é (era) muito inteligente, e cérebros pensantes me interessam. Em segundo, porque macho pacas em sua condição corajosamente gay, e coragens me fascinam. E em terceiro, porque divertidíssimo, e senso de humor me apaixona.
Como não desejar conviver com pessoas que são capazes de sacar a alma humana em toda sua estupidez e mesquinharia e, mais ainda, que conseguem transformar isso em algo aprazível?
Atentem para essas frases do gênio:
-"Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal."
-"Quando eu era jovem, pensava que o dinheiro era a coisa mais importante do mundo. Hoje, tenho certeza."
-"Perversidade é um mito inventado por gente boa para explicar o que os outros têm de curiosamente atractivo."
-"As pessoas mais interessantes são os homens que têm futuro e as mulheres que têm passado."



Oscar Wilde
Cínico pacas. Hilário. J'adore...

2 de novembro de 2009

Será que ele chorou?


Gente!!! O que está acontecendo? Será a Sorte? Serão as estrelas? Ou será o quinto dedo de nosso presidente metido nesse balaio?
Sei não...Essa história do Rio sair ganhando tudo que é disputa está começando a me intrigar. Primeiro veio a Copa do Mundo, depois, Olimpíadas. Elegeram o Rio como a cidade mais feliz do mundo e, agora, é também o melhor destino gay!!!
É aquela coisa de gato escaldado: quando o feijão é demais, a gente desconfia. Ou tá queimado, ou o prato é raso...
Gostaria mesmo é de ter acompanhado-o-Lula-acompanhando esse último "desafio". Será que ele torceu muito, gente? Será que ele telefonou pro Paulo Coelho fazer umas macumbinhas chiques lá de Paris? Será que ele se agarrou ao Eduardo Paes, que já deveria estar aos prantos, pendurado no pescoço do Sergio Cabral?

Só a título de informação:
O Relatório Anual do Grupo Gay da Bahia (GGB), que lista desde 1980 os assassinatos de homossexuais no Brasil, aponta que, em 2008, houve 55% mais crimes do gênero do que no ano anterior - 190 ante 122. Em 2007, o crescimento, na comparação com 2006, havia sido de 30%.

O dado, segundo o GGB, posiciona o País como o mais homofóbico do mundo, seguido por México, que registrou 35 casos de homossexuais assassinados no ano passado, e pelos Estados Unidos, com 25. Desde o início do levantamento, o total de homicídios considerados homofóbicos pela organização chega a 2 998.


Agora é aguardar as melhorias que serão feitas no Rio para receber nossos alegres, gastadores e festeiros amigos. Imagino que será necessário muito mais do que os R$800 mil prometidos para a próxima Parada Gay para tornar a cidade digna desse título tão colorido.

Roubado do "O Jardim Alheio"

Para coroar essa melancolia que brota em mim nesses dias de mortos e, então, de consequentes saudades de tantos (e quantos!) que se foram sem que eu sequer tivesse tempo de perceber a falta que me fariam...

O infinito
"Sempre cara me foi esta colina
Erma, e esta sebe, que de tanta parte
Do último horizonte, o olhar exclui.
Mas sentado a mirar, intermináveis
Espaços além dela, e sobre-humanos
Silêncios, e uma calma profundíssima
Eu crio em pensamentos, onde por pouco
Não treme o coração.
E como o vento
Ouço fremir entre essas folhas, eu
O infinito silêncio àquela voz
Vou comparando, e vêm-me a eternidade
E as mortas estações, e esta, presente
E viva, e o seu ruído.
Em meio a essa
Imensidão meu pensamento imerge
E é doce o naufragar-me nesse mar."

Giacomo Leopardi
(tradução de Vinicius de Moares)

OU AINDA, EM TRADUÇÃO POR MIM DESCONHECIDA...

"Sempre me foi cara esta erma colina
e esta sebe, que por toda a parte
do último horizonte o olhar exclui.
Mas sentando e admirando, intermináveis
espaços para lá dela e sobre-humanos
silêncios, e profundíssima quietude
eu no pensamento me finjo; onde por pouco
o coração não me amedronta. E como o vento
ouço sussurrar entre estas plantas, eu aquele
infinito silêncio a essa voz
vou comparando: e me sobrevém o eterno
e as mortas estações e a presente
e viva, e o som dela. Assim entre esta
imensidão se afoga o pensamento meu;
e o naufragar é-me doce nesse mar."

E AGORA, O ORIGINAL...

L’infinito
Sempre caro mi fu quest'ermo colle,
E questa siepe, che da tanta parte
Dell'ultimo orizzonte il guardo esclude.
Ma sedendo e mirando, interminati
Spazi di là da quella, e sovrumani
Silenzi, e profondissima quiete
Io nel pensier mi fingo; ove per poco
Il cor non si spaura. E come il vento
Odo stormir tra queste piante, io quello
Infinito silenzio a questa voce
Vo comparando: e mi sovvien l'eterno,
E le morte stagioni, e la presente
E viva, e il suon di lei. Cosi tra questa
Immensita s'annega il pensier mio:
E il naufragar m'è dolce in questo mare.



Giacomo Leopardi

(29 de junho de 1798 -
14 de junho de 1837)

1 de novembro de 2009

Êta domingão...

Chove. Nada mais domingo do que um domingo de chuva. E com essa baita gripe que me domina então...
Vagando por esses mares virtuais, cheguei a um blog que me mostrou o jovem e genial pianista inglês Jamie Cullum tocando Radiohead, a banda que, como já disse em outro post lá embaixo, me cativa nesse início secular:



Dali, imediatamente recuperei na memória pianística o pernambucano gracinha Vitor Araújo, enorme talento que brilha no alto de seus 21 anos, que também curte Radiohead e que é capaz de fazer loucas fusões entre o rock, o baião e o que mais lhe der na telha.
Até que tá valendo esse super domingão...

Acreditar, enfim?

Fazer Ciência é uma das poucas capacidades do ser humano que ainda me comovem positivamente (uma outra é o fazer artístico).
Recebi as fotos abaixo, via e-mail, de um primo médico. São do interior do corpo humano e foram tiradas por um super-hiper microscópio capaz de detalhar tamanhos variáveis entre um e cinco nanômetros. Pense que um nanômetro equivale a um bilionésimo de milímetro! Putz.
Abaixo, alguns desses exemplos em que fica difícil definir o que é Corpo, o que é Arte.
(ai, que vontade de acreditar em Deus...)


células vermelhas


células cancerosas no pulmão


alvéolos do pulmão sadio


óvulo fertilizado e espermatozóides remanescentes

Considerações na madrugada




Nessa semana uma amiga me recomendou, sem muito entusiasmo, o filme "Quem quer ser um milionário", de Danny Boyle (vide "Transpoting" e "Cova Rasa"): "interessante", ela disse, "mas não entendi bem sobre o que ele trata", completou em reticências.

Acabei de assistí-lo agora e, ainda sob seu impacto, resolvi tentar colocar nessas linhas que seguem algumas considerações ainda não muito analisadas, mas que pululam alvoroçadas vagando entre risos e lágrimas...

Respondendo à minha amiga, poderia dizer que esse filme trata sobre a Índia, e não estaria mentindo: as lentes corajosas do diretor desfraldam um país famoso por sua natureza de cartão postal, por sua religião, arquitetura e História, mas imerso em loucas contradições bastante conhecidas por nós aqui na terrinha; conseguem rimar fome com violência, abandono com intolerância, para construir um poema por sobre as cinzas da escrotidão humana e pintar 24 quadros por segundo com todas as cores da pobreza terceiro mundista.

Poderia ainda dizer que trata sobre o Amor. Sobre um sentimento ali forjado na cumplicidade e na inocência da infância e que resiste à realidade e aos percalços do imponderável. E como são imensos os amores que no filme se renovam! Amor de irmãos, amor de mosqueteiros, amor de um homem por uma mulher. Amor por um sonho, por uma saudade.

Mas não diria, à despeito do título, que trate sobre a ganância, nem sobre desejos de riqueza. Absolutamente não. Nenhum personagem no filme é deslumbrado pela possibilidade de se tornar milionário, e os poucos endinheirados que por ali aparecem são uns infelizes coadjuvantes, sem nenhuma relevância outra que não a de servir como "escada" para nossos heróis involuntários.

Mas talvez a melhor palavra para definir "Quem quer ser..." seja "esperança". É, acho que é um fime sobre isso, sobre esse sentimento tão comprometido e clichê que insiste em nos levar à frente na eterna busca por algo em que possamos acreditar, em algo pelo que possamos lutar. Não foi à toa que falei em "amor de mosqueteiro" lá em cima. E não é à toa que esses 3, 4 ou 5 fiéis e bravos defensores de um longíquo rei francês são a grande metáfora do filme, seu grande lite-motiv, e que acabem por fechá-lo com uma enorme e brilhante chave de ouro.