7 de dezembro de 2009

Qual é o limite da estupidez humana?

Está a todo vapor a construção da Companhia Siderúrgica do Atlântico(CSA), um mega complexo siderúrgico em Santa Cruz, às margens da Baía de Sepetiba (RJ), cuja meta é a produção de 5 milhões de toneladas de placas de aço por ano.
O empreendimento, previsto para começar a operar em meados de 2010, vai gerar 3.500 empregos diretos e mais uns 10 mil indiretos, o que, convenhamos, não é pouca coisa.


O problema, que também não é pouca coisa, está no "detalhe" de que, quando em pleno funcionamento, vai emitir 9,7 toneladas de CO2 eq/ano, 12 vezes mais que a totalidade das outras industrias do Rio checadas em 1998.

Essa informação me chegou pelo site do PV: ao saber dessa história durante um jantar com o Sirkis (presidente do Partido Verde no Rio), Daniel Cohn-Bendit, o lider dos verdes no Parlamento Europeu, disse, entre chocado e perplexo: "Isso é algo enorme, vamos investigar se houve alguma burla direta ou indireta de normas da União Européia. São gases de efeito global, tanto faz se são emitidos na Alemanha, no Brasil ou na Nigéria”.

É impressionante que até hoje esse tipo de "descuido" ainda ocorra no mundo. Sinais de catástrofes irrevogáveis, ou melhor, sinais, não, catástrofes mesmo, espocando em tudo que é canto por causa da poluição e do efeito estufa, e esse débil ser Humano insiste em continuar a poluir desmesuradamente. E, é bom que se lembre, a CSA é da Thyssen Krupp, que pretende exportar para suas fábricas alemãs e americanas o aço aqui produzido... Putz! Depois de acabarem com suas florestas, los gringos vêm pra cá para terminar com as nossas?! É isso mesmo, ou eu é que sou ignorante demais para pensar hiper-mega-super-empreendimentos?

O cérebro pode delatar uma pessoa?

Assistindo ontem às lamentáveis cenas de violência das torcidas de futebol, engatei uma interessante conversa com uma amiga sobre os motivos de tais atos. E como "livre pensar é só pensar", acabamos descambando para neurociência, experimentos nazistas, os filmes "Gátaca" e "Minority Report", e toda sorte de suposições (pseudo)científicas.
Lembrei-me, então, de um texto que li já há alguns meses e que, sabe-se lá porque, guardei aqui no computador. Como acho sempre interessante tais divagações, essa idéia de que um dia a ciência há de controlar nossas vidas, emoções, desejos e que tais, ei-lo um pouquinho editado para não ficar demais...

“A intimidade do pensamento está em risco. Novas técnicas para ler a mente reforçam o detector de mentiras para acusados e empregados.

Até agora foi uma possibilidade mais ou menos remota e mais ou menos incômoda. Mas um tribunal da Índia a transformou em realidade: em junho, uma mulher foi condenada por assassinato depois que o juiz aceitou como prova o resultado de um detector de mentiras cerebral. A acusada - que se declara inocente e se submeteu voluntariamente ao teste - não precisou abrir a boca; seu cérebro supostamente disse tudo, e acabou inculpando-a. A maré de reações não se fez esperar, entre outras coisas porque a notícia cai em campo fértil.

Nos últimos anos empresas americanas anunciaram a intenção de oferecer esse serviço, por isso os neurocientistas e especialistas em ética e em direito há algum tempo se perguntam se a técnica é confiável... e não só isso. O que mais se poderia ler no cérebro, além da mentira? É um avanço ou um perigo?

A neuroética já se considera uma nova disciplina. Na publicação científica de mesmo nome, "Neuroethics", analisa-se desde a responsabilidade penal dos viciados até o uso de medicamentos para alterar a memória - há pelo menos um caso real: uma mulher escutou na mesa de cirurgia o grave diagnóstico do câncer que sofria, e o anestesista apagou deliberadamente e com sucesso a memória da paciente.



Javier Cudeiro, do grupo de Neurociência e Controle Motor da Universidade de La Coruña, diz que recorrer aos rastreadores cerebrais para detectar mentiras hoje é "conceitualmente semelhante" ao uso da frenologia há dois séculos, quando se analisava a personalidade de um indivíduo medindo os relevos de seu crânio - molde dos vultos que no cérebro abrigariam sentimentos como amor, ódio ou sentido de justiça.

Isso já responde à primeira pergunta da lista: não, atualmente nenhuma técnica de detecção de mentiras e confiável. Mas não só as baseadas na neurociência. Também não é seguro o polígrafo nem os movimentos involuntários dos olhos, nem a medição da temperatura do rosto, entre outras técnicas variadas a que já se recorreram - a Inquisição dava pão e queijo a suas vítimas; caso se engasgassem era porque tinham a boca seca e portanto mentiam. Essa é a opinião majoritária da comunidade científica internacional.

Os rastreadores cerebrais para detectar mentiras partem do princípio de que o cérebro trabalha mais para mentir. Mas e se o suspeito acreditar que um fato falso é verdadeiro? Se um psicopata sem qualquer remorso engana tranqüilamente um polígrafo, o que dizer de um cérebro com falsas lembranças? "Os resultados seriam muito diferentes se o suspeito fosse um neurótico ou um psicopata; o primeiro pode tender a se autoculpar, e o segundo nem se emociona com a lembrança do caso. Se já é difícil saber a verdade com palavras, por que esperam que seja mais fácil registrando a atividade cerebral?", diz José María Delgado García, neurofisiologista da Universidade Pablo de Olavide.



Com tanto em contrário, pode-se dizer que a idéia de apanhar um mentiroso pelo cérebro deveria estar enterrada. Mas é o contrário. E o comprovam fatos relacionados, como o de que os principais usuários do polígrafo nos EUA sejam as agências de segurança e defesa, que submetem seus empregados ao teste. Segundo o jornal "The International Herald Tribune", o Pentágono - que conta com um instituto especializado em técnicas de detecção de mentiras, como o próprio polígrafo - pretende provar a sinceridade de 5.700 empregados e aspirantes a cada ano. Para isso deverá recorrer pela primeira vez à terceirização. A lei que proíbe que as companhias americanas demitam ou selecionem seus funcionários com base no polígrafo não afeta os funcionários públicos. Então qual é a diferença entre o caso na Índia e as duas empresas americanas que comercializam serviços de detecção de mentiras com rastreadores cerebrais? Nenhum tribunal aceitou até hoje suas técnicas, muito menos em um caso de assassinato. Mas isso não foi necessário para que elas começassem a ganhar dinheiro.


Restam outras perguntas. E se a técnica realmente chegasse a ser confiável? Isso poderia acontecer...




...o problema hoje está na complexidade da informação a se processar, mas não existe um obstáculo fundamental, diz Agnés Gruart, neurocientista da Universidade Pablo de Olavide. "O cérebro funciona pela ativação de determinados circuitos cerebrais em um tempo e uma ordem determinados, por isso é perfeitamente correto que alguém determine através de técnicas de neuroimagem ou semelhantes onde ocorre essa ativação, e suas características. O problema é que ainda não podemos interpretar esse funcionamento de forma precisa. Todo o comportamento e o pensamento são produzidos no cérebro; com mais informação e refinamento técnicos, poderia chegar a descrever como são gerados o comportamento e o pensamento."

Cudeiro também diferencia entre hoje e depois de amanhã: "É possível que em um futuro não distante sejamos capazes de encontrar os correlatos neurais da intenção ou da verdade. Na atualidade a incerteza dos dados ainda não o permite".

É fácil imaginar: nos aeroportos não seria preciso abrir malas, mas o cérebro - isso sim, o equipamento teria de mudar muito. Fazer hoje uma ressonância magnética não é um processo rápido nem cômodo, nem para todo mundo. Talvez também não seriam necessários jurados, e a polícia teria dispositivos portáteis.

Para Javier Sádaba, diretor do Instituto de Bioética e Humanidades Médicas, "a modificação da vida seria bastante considerável". Mas na opinião dele é um cenário verossímil: "Estamos entrando no cérebro a uma velocidade surpreendente, os avanços são espetaculares e colocam questões estritamente morais relacionadas à intimidade". Para Sádaba, seria preciso estabelecer limites para o uso dessas tecnologias, mas deveria primar o bem comum: "Imaginemos que a vida de 200 pessoas dependa de se alguém mente. Não haveria qualquer inconveniente em recorrer a essas técnicas".


Mónica Salomone
Fonte: El País
créditos:
Tela "Lição de Anatomia", de Rembrandt
Foto: José Roberto Arruda, de Valter Campanato