29 de outubro de 2009

Crack da zona sul



Há mais ou menos 16 anos comecei a ter notícias do uso do crack por amigos de amigos aqui no Rio. Coisa pouca, à boca pequena, aqui e acolá. Dizia-se à época que os traficantes não deixariam essa droga entrar na cidade, não por consciência social, note-se bem, mas porque daria pouco lucro comparada à maconha e à cocaína.

Alguns anos depois estive em Aracaju (!) e soube, e vi, que o crack já se alastrava com sucesso pela periferia da cidade, numa onda destrutiva alarmante e absolutamente ignorada pela maior parte da população.

Por essa época, notícias começaram a espocar no Fantástico, com aquele off trombonesco do Cid Moreira, sobre a drogadição de mendigos e menores abandonados nas praças paulistas. Câmeras escondidas, repórteres disfarçados, era tudo quase "normal" e o show da vida continuava entre os intervalos comerciais.

Enquanto a praga do crack estava restrita aos Raimundos nordestinos que apenas facilitavam a rima; enquanto o flagelo venenoso atacava apenas os Josés das praças das Sés sem agoras, sem rosto e sem interrogações, não havia o medo, não havia endereço, não havia questões: era apenas um susto, era apenas espetáculo, era tão somente fantástico.

Mas eis que finalmente o maldito barato alcança a classe média carioca e assassina na zona sul! Imediatamente a mídia se alarma e faz alarde. Descobre-se repentinamente números e abusos que apavoram e levantam os cabelos do Leblon: as pedras que estão no meio do caminho, afinal, não tem cheiro de maresia e são absolutamente reais e letais!

Há tragédias que superam a dor para se tornarem símbolos. E a morte assassinada- coisa mais triste!- da menina Bárbara parece ser um desses casos.

Que não seja em vão e que não seja fantástica, mas que desperte, sim, a Consciência.
(e essa vontade de chorar pela raça humana parece não ter fim...)

18 de outubro de 2009

Enquanto isso, rumo às Olimpíadas...



Nem Oliver Stone, nem Fernando Meirelles: essa é a realidade no coração de Vila Isabel, um dos bairros mais tradicionais da cidade maravilhosa, terra de Noel Rosa e Martinho da Vila, um pedaço de terra que outrora pertenceu aos jesuitas e que hoje é conhecido por Morro do Macacos.

Mas, rejubilemo-nos todos, teremos 28 bi para investir em "melhorias" para as Olimpíadas.
São as contradições da vida...

16 de outubro de 2009

Uma puta deputada!


Adorei saber que Gabriela Leite, socióloga formada pela USP, ex-prostituta (se é que essa classificação é possível) e uma importante líder de suas "colegas" brasileiras, será candidata a deputada federal pelo PV.

Mulher inteligente, fundadora da ONG Davida e da grife Daspu, com certeza Gabriela será um up-grade no quadro político brasileiro, já que, no mínimo, poderá subir na tribuna e falar com autoridade de mãe, visto ser a maioria de nossos nobres congressistas uns grandes filhos da puta!

A discussão promete, estou até excitada. Já era hora dessa gente maquiada e laboriosa mostrar seu valor. Todos nós, afinal, vendemos alguma coisa de nosso: idéias, escritos, talentos, músculos, braços, pés, cérebros, tempo...Por que não os corpos, pura e simplesmente? O que poderia fazê-la pior do que a corja ignara que pulula em Brasília?

Gabriela com certeza entende de dor, de rejeição, de preconceito. De necessidades básicas, de respeito ao próximo, de luta, de direitos cidadãos. Gabriela é PHD em Brasil e vai sacudir a poeira dos tais "antigos ideais": ela é, afinal, a própria encarnação de uma "nova idéia".

Já que nobres economistas, seletos advogados, respeitáveis empresários, não mais conseguem manter suas cabeças erguidas, talvez uma puta lhes dê uma mãozinha...

8 de outubro de 2009

Começa assim...o que virá depois?



Não bastasse explodirem a Terra, agora a sanha destruidora dos "proprietários" do Universo atingiu a lua!
Se tudo correr bem, e no melhor das hipóteses, teremos que admitir que Nina Haggen estava certa: os ETs estão de olho e virão nos salvar...de nós mesmos!

Sempre ela...

"Somos iguais à morte. Ignorados e puros.
E bem depois (o cansaço brotando nas asas)
seremos pássaros brancos à procura de um deus."
Hilda Hilst

7 de outubro de 2009

Essa voz me enleva...e alucina.

A primeira vez em que ouvi Portishead, uma banda britânica de trip hop formada na década de 90, impressionou-me de imediato a voz de sua vocalista, Beth Gibbons. Era até difícil escutar aqueles lamentos, angustiados sussurros que atacavam diretamente a alma. Fiquei, literalmente, chapada.

Nesse estado meio deprê em que me encontro, procurei um fundo musical adequado para se enquadrar entre o por do sol e a lua cheia.
(re)Encontrei.



E abaixo, compartilho um recente achado internéctico, registro amador de um trabalho de Gibbons com o músico português (ex- Madredeus) Rodrigo Leão.

4 de outubro de 2009

Deprê pós férias




Recém chegada de Trancoso, onde estive pela primeira vez em 1982, e de onde guardo irreparáveis saudades, resolvi ir ao cinema depois de longos meses de abstinência. Hoje assisti a dois documentários muito bons no Festival do Rio: "Árvores com Figos", classificado como gay por tratar sobre Aids, do canadense John Greyson, e "Uma moda Transgressora", do alemão Marco Wilms, sobre jovens envolvidos com moda alternativa na Alemanha Oriental lá nos idos de 80.

E é esse último que me faz voltar a esse abandonado blog. Não pelo filme em si, mas pelo que me disse o diretor quando perguntei sobre as saudades que ali transbordam a 24 quadros por segundo, como se falta ele sentisse dos anos de repressão: "-Não é exatamente do estado das coisas de que sinto falta, mas da juventude".

Bingo. É isso mesmo. Enquanto andava pelas praias de Trancoso e olhava com sentimentos apocalípticos para aquela mata ainda preservada, mas já no corredor da morte, ou quando sentava no Quadrado e observava a turistada predatória esvoaçando em bandos barulhentos pelas inúmeras lojas e restaurantes, era por mim mesma que ensaiava um choro sem lágrimas. Era em meu Nome que minha alma cantava o blues, e não pela Bahia, e não pelo planeta.

Minhas saudades, traduzo agora, vibram pela minha esperança que se desmorona a cada dia, pela minha fé que se torna atéia, pelos meus sonhos cada vez mais esquecidos e desacreditados.

A minha tristeza não era pela raça humana, mas pelo meu corpo decadente, pelo fôlego que se encurta, pelo tesão que fica pra depois do cansaço interminável...

A grande diferença entre a Trancoso dos anos 80 e a de hoje, não é cidade e suas transformações: sou eu e o meu olhar.

Envelhecer é uma merda!