27 de fevereiro de 2010

Pra você, imã da madrugada...

Cada vez mais me pego só. Me pego além. Me pego outra.
E o blues, sempre lá. Sempre mais, sempre outro.
As coisas falam por si.
E por mim.



Quem Me Olha Só
Barão Vermelho
Composição: Frejat e Lobão

Já reguei quase todas as plantas
Já chorei sobre todo o jardim
Elas gostam da chuva que molha
Elas pensam que o sol é ruim

Quando o sol nos meus olhos brilhava
Por amar minha flor tanto assim
Fui feliz sem saber que secava
A rosa e trazia o seu fim

Hoje sente dó, quem me olha só
Entre flores, folhas e capim
Elas gostam da chuva que molha
Se alimentam do mal que há em mim

Hoje sente dó, quem me olha só
Eu tenho o carinho dos espinhos
Hoje sente dó quem me olha sozinho

Hoje sente dó, quem me olha só
Eu tenho os espinhos do carinho
Hoje sente dó quem me olha sozinho

24 de fevereiro de 2010

Viva Angola!

Meu ex-chefe e "mentor", carrasco e amigo querido, carioca por vocação, Ricardo Soares, do Todo Prosa ali ao lado linkado, está em Angola a trabalhar (aproveito para recomendar uma visita a seu blog, já que ele tem escrito muito sobre o país e o faz com charme e olhares bem pessoais).

Enfim, Ricardo está em terras d'África e hoje, especialmente, bateu saudades daquele grande Urso: tive que fazer uma rápida pesquisa sobre Angola, mais especificamente sobre música, e, ao fazê-lo, fiquei imaginando como será a vida num país destroçado por uma terrível guerra civil que durou 27 anos, mas que tem música e literatura de primeira. Um país que renasce agora graças ao petróleo e aos diamantes, mas constrói uma burguesia que promete ser tão "pequena" quanto a nossa, como já indicou o escritor Pepetela em seu livro O Predador e como comprova o Fundo Monetário Internacional: mais de US$ 4 bilhões teriam sumido da tesouraria de Angola nessa primeira década de 2000.

Impressão minha ou essa informação soa familiar?

Enfim, deixo aqui de presente, em homenagem a todas as pessoas que passam e marcam nossas vidas, uma cantora que, se não é angolana, tem o sangue d'África colonial a lhe correr pelas veias: Cesária Évora, num video delicioso, cantando...Angola.

É pra você, Ricardito...E viva nossos irmãos africanos!



Angola
Cesaria Evora
Composição: Ramiro Mendes

Ess vida sabe qu'nhôs ta vivê
Parodia dia e note manché
Sem maca ma cu sabura
Angola angola
Oi qu'povo sabe
Ami nhos ca ta matá-me
'M bem cu hora pa'me ba nha caminho
Ess convivência dess nhôs vivência
Paciência dum consequência
Resistência dum estravagância

21 de fevereiro de 2010

Tecnologia, simplicidade, raiva, Etiópia...

Há alguns dias recebi um e-mail com uma matéria sobre "augmented reality" (AR), assim mesmo, em inglês, que me aguçou os pensamentos sobre "a vida no porvir". Já tinha ouvido sobre a coisa, até visto algumas toscas representações, mas fui atrás de maiores detalhes que aqui reproduzo para aqueles que ainda não estão familiarizados com a engenhoca:

"Realidade Aumentada" é uma tecnologia que reconhece, por meio de software específico, uma determinada marca que, captada por sensores, cria um cenário 3D que modifica os objetos de acordo com os movimentos gerados em mundo real.

Para encurtar o assunto, é quando trazemos para a vida real elementos do mundo virtual, em tempo real. No momento presente, isso se dá através de uma superfície onde há um símbolo estampado. Colocados na frente de uma webcam, ou de um celular, surge ali, na tela, uma figura, um objeto tridimencional, com o qual interagimos como num game. Abaixo um exemplo simplinho, mas que ajuda a visualizar:



É claro que a publicidade já se apoderou da técnica, embora eu não tenha notícias da onda AR já ter chegado com força aqui em terras tupiniquins. Olhem só o tênis que a Adidas lançou...



Mesmo que ainda não se tenha explorado todos os caminhos possíveis de utilizarmos a AR, é-me fácil perceber e adivinhar que o caminho de sua popularização será rapida e criativamente percorrido em todas as searas do Humano, como Educação, Moda, Ciências, Arquitetura, nas próprias interações pessoais.

Mas isso tudo acima posto foi detonado pela vontade em compartilhar a tatuagem em AR que me encantou: para o bem, ou para o mal a prova cabal de que num futuro próximo poderemos ter marcas pelo corpo enviando mensagens para quem tiver esse ou aquele dispositivo compatível para traduzí-las/vê-las. O corpo será, literalmente, a mensagem. E o meio.



E logo após esse e-mail cibernético que me fez vibrar com as novas descobertas tecnológicas ampliando as possibilidades humanas, eis que me chega um outro que, ao mesmo tempo em que enlevou pela beleza e graça de uma simplicidade que a História resguardou, me remeteu ao velho, profundo e paradoxal ódio dessa estúpida raça humana e sua necessidade em destruir o que nos resta de naturalmente belo no mundo: fotos de Hans Silvester na Etiópia, mais precisamente em Omo Valley, de tribos que serão em breve eliminadas do mapa porque em seu milenar habitat será construída uma gigantesca hidrelétrica.



Será a capacidade do Homem em Criar diretamente proporcional à sua sanha destrutiva? O que será que nos restará ao frigir dos ovos?

16 de fevereiro de 2010

E lá se foi o Carnaval...

Acabou o Carnaval! Graças a Deus...Estou exausta depois de 4 dias de folia e muita cerveja para manter o corpo hidratado (êta desculpinha vagabunda, sô!). Bom, a bem da verdade, não "carnavalizei" nesses quatro dias, apenas 2, mas foram de cansar qualquer atleta.
Tirei fotos, menos do que pretendia, e coloco algumas aqui para amigos que estão longe e para aqueles que se interessarem pela manifestação mais alegre que já vivi na vida: pelas ruas da cidade, mais de 500 blocos desfilaram (um recorde) e arrastaram milhares de pessoas divertidas e encaloradas, sem que nenhuma grande confusão, além de enormes engarrafamentos, fosse registrada.
Em várias ocasiões cheguei a me emocionar com a alegria desse povo que amo e que tem sido mal tratado pelo descaso da classe política. Povo criativo, musical, que tem a felicidade estampada no DNA, e que se tivesse um décimo das oportunidades de educação e cultura que encontramos no chamado "1o. mundo", provavelmente dominaria a Terra espalhando muito confete e serpentina!

As quatro fotos abaixo foram tiradas na Lapa, antes e durante a passagem do bloco Carioca da Gema que, além de um caminhão de som fenomenal, contava com os luxuosos e afinadíssimos gogós de Moyseis Marques e Tereza Cristina, dois bambas do samba descobertos na noite desse bairro de centenária vocação para boemia...Um luxo só.





















































Já essas outras eu tirei no meu bloco predileto: Cordão do Boitatá, que toma as ruas do centro da cidade no domingo pela manhã. É onde encontramos as fantasias mais engraçadas. Nesse ano, segui também o Cordão do Boi Tolo, no mesmo local e hora, um bloco formado por foliões que, há cerca de 5 anos, chegaram atrasados ao Boitatá e resolveram sair assim mesmo, com poucas pessoas, para não perder a viagem. Hoje ambos dividem o espaço bem democraticamente e chegam a se confundir. É o tal do espírito "vamos nos divertir, galera!", que impera durante o carnaval.







I



love




this




town!!

11 de fevereiro de 2010

O Rio de Janeiro continua lindo...e quente!!!!!!

E eis que a cidade maravilhosa é considerada oficialmente a 2a. cidade mais quente do planeta, perdendo apenas para Ada,em Gana, na África. A sensação térmica no centro do Rio foi, ontem, de 46,3 graus, contra 46,5 na cidade africana.


Fonte: O Dia

Mas, como o carioca sempre consegue dar um driblezinho nas adversidades, surge uma nova modalidade de combate ao calor: a praia noturna. Com as águas relativamente frescas, o metrô chegando até a Pça. General Osório (o coração da zona sul) e o por do sol digno de uma pintura impressionista, as areias de Ipanema têm ficado lotadas até cerca de 23h. O máximo dos máximos.



Fotos de Marcos Arcoverde









Abaixo, algumas piadinhas referentes ao calor que vem assando a cidade:

-Receita agora é assim: (…) Leve ao Rio de Janeiro para assar por cerca de 20 minutos...
-O Rio de Janeiro só tem duas estações no ano: Verão e Inferno.
-Comprei um sorvete de chocolate aqui no Rio de Janeiro , e ele virou chocolale quente em segundos.
-Campanha "RJ Solidário": doe 15 graus para NY.
-Que tal mudarmos o nome da cidade para "Córrego de Janeiro"? Porque com esse calor, não há rio que aguente.
-O centro da terra é um vulcão que desemboca no Rio.
-Até o fogo do sol vem passar as férias no Rio.
-Frente fria no Rio só dá pra sentir quando o corpo está molhado em frente ao ar condicionado.

J'ADORE...!

Os sapos também amam!

Nesses dias momescos em que baixa em mim o espírito de uma alegre e saltitante pereca (apesar de alguns poucos insensíveis confundirem com um papagaio!), como prova a foto lá no post abaixo, calou-me fundo esse video recebido de uma amiga amante de batráqueos em geral: os sapos, afinal, são amorosos!

Nunca mais olharei para uma pereca da mesma forma...

7 de fevereiro de 2010

Foi dada a largada!

No ano passado passei incólume pelo carnaval: meu pai estava doente e eu, sem ânimo para folias e estrepolias momescas.

Mas pressinto que "esse ano não vai ser igual àquele que passou...". Se não pelo fato de meu pai estar bem de saúde, pelo rufar dos tambores que já ouvimos não de tão longe e pelo sol e calor inclementes que bronzeiam os corpos, atiçando os sentidos.

E ontem foi, para mim ao menos, a abertura oficial dessa época dionisíaca, com o lançamento da camistea do bloco "Vem Ni Mim que sou Facinha", do qual orgulho-me de participar desde sua fundação há 12 anos e de ser integrante da "ala dos compositores":









Para completar o início da festa, hoje, após alguns anos de ausência, acordei mais cedo para curtir um bloco que vi crescer (éramos apenas uns 300 no início, sambando muito pelas ruas do Jardim Botânico, sem maiores produções do que a irreverência das letras dos sambas e das fantasias) e que nesse ano completa seu jubileu de prata: o Suvaco do Cristo.

Putz! É difícil acreditar que lá se vão 25 anos!!!!! 25 anos em que os 300 do início se transformaram em 50 mil, número suficiente para fechar, literalmente, o bairro nos dias de desfile e formar uma confusão enorme, motivo pelo qual me afastei durante tanto tempo.

Mas hoje compareci. E foi ótimo!! Algumas mudanças, claro: agora o bloco sai pela manhã (o que, é verdade, já dá uma aliviada no número, e na qualidade, dos foliões), tem um enorme caminhão de som, ala de baianas, seguranças por todo lado. Mas o fundamental está ainda lá: a alegria e a irreverência nas letras do samba e nas fantasias.

Abaixo, o registro do inusitado encontro de Obama, Osama e Hugo Chaves; uma turma de garotões fantasiados de panteras cor de rosa que "escalaram" um prédio; nosso ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, tradicional "suvaquense", sambando até não poder mais; alguns avatares animadíssimos e eu, a feliz perereca perdida na folia.

Me diverti horrores. Um bom sinal de que o carnaval promete...





4 de fevereiro de 2010

Centenário!!!!


E eis que chego à centena de posts! Mal posso acreditar...Quando comecei a escrever por aqui, toda insegura, incentivada pelo Ricardo Soares do Todo Prosa, provavelmente já cansado, então, de me ter tão ativamente palpiteira em seu espaço, achava que não daria conta de ter tanto assunto, tanto o que dizer e compartilhar com pessoas tão diversas, tão "desconhecidas".

Mas tomei gosto pela coisa e descobri que o Universo conspira para a Comunicação. Descobri que encontramos, nessa louca Rede de letrinhas, olhos e ouvidos a fim de saber o que se passa em outras conecções, interessados que são em Trocas, no Outro.

Uma tremenda experiência, esta.

Deu-me mais auto confiança ser visitada por vocês, receber seus comentários, ver meus palpites acatados e respeitados. De verdade.

E cresci mais também, aprendi muito visitando seus blogs, alguns até d'além mar. Recebi notícias, compartilhei alegrias e desventuras, soube de "fofocas", me deliciei com fotos, ouvi músicas, conheci poetas e assisti a videos que me comoveram.

Não seria isso uma (nova) forma de Amizade?

Mara*, Pinguim, Edu, Bebum, Ramúcio, Mr. Red, Silvana, Bárbara, alguns amigos conhecidos "in natura", e outros que me escapam nesse momento, mas que volta e meia me dão o prazer da visita, vocês me alimentam, seja com suas presenças aqui no Gentil, seja com seus espaços virtuais para onde sempre retorno cheia de curiosidade para ver a mais recente postagem.

Obrigada, meus mais recentes queridos, por existirem e por compartilharem essa existência.

Deixo, então, aqui, sanguessuga virtual que me acostumei a ser, uma descoberta musical vinda diretamente do Pintando Música, da Mara*, ali ao lado linkado, que julgo eloquente o suficiente para exemplificar o que, para mim, é a máxima dos blogs (e balsas, como prefere o Edu Campos): "cada um na sua, mas com alguma coisa em comum"...

E até o post 101!

2 de fevereiro de 2010

Arghvatar...



Olha, sei que serei crucificada, mas fui assistir Avatar e, tirando a over dose de belas, realmente incríveis, imagens, não vi nada demais no filme.

Pra começar, é cansativo. O roteiro, fraco em óvias mensagens e citações (Sigourney Weaver, por exemplo, atriz que amo, no papel de cientista defensora das lindas e fofas azuis criaturas é um link mais que direto com todos aqueles Aliens por ela estrelados) me fez dar bons cochilos durante as três horas de duração da coisa.


Agora, que a projeção em 3D é tudo de bom, lá isso é. E Cameron, o diretor, soube tirar proveito disso. A floresta onde se passa a trama dos terríveis-americanos-que-querem-destruir-a-natureza-e-seus-adoráveis-habitantes é uma viagem lisérgica, cheia de coloridos, de profundidades, de pássaros, árvores monumentais e bichos estranhos e ferozes, porém submissos às tais "criaturas azuis" que, apesar de serem "do bem", não vacilam na hora de dominá-los, compensando a falha com sua ternura (oh) e sua reza (oh!) na hora de apunhalá-los no coração (buáááá).

E a batalha final? Putz, já não aguentava mais tanta música grandiloquente, tanto tiro, tantas máquinas superpoderosas, tanto barulho, tanta edição e tantas câmeras em rápidos movimentos (um primor a produção, de verdade).

O filme é tão superlativo que empalidece a causa ecológica, muito tatibitati: o homem mau que quer destruir o mundo bom. Os bons selvagens contra a máquina capitalista, saca? Aquele discurso antigo e raso, mas que sempre cola e emociona.

Sinceramente, acho a vida real trocentas vezes mais emocionante: quando vou a Búzios, por exemplo (vide post lá embaixo)e vejo o mal acontecendo em cada morro destruído, em cada bromélia em extinção trocada por palmeirinhas "de Miami". Ou quando vou ao nordeste e vejo aquelas plantações de cana tão enormes, tão gigantescas que os olhos já nem vislumbram o final, dominando a paisagem como avatar nenhum pode conceber.

É, a ficção não tá mais dando conta da realidade, muito mais brutal, mesmo que sem trilha sonora...

Foi uma de lambuja









Lá no blog do Pedro Ramúcio, ao lado linkado como "Canto Geral do Brasil (e outros cantos)", reclamei, meio que de brincadeira, meio que a sério, de que em uma lista de poetas preferidos, ele só tenha citado nomes de homens: Rosa, Nelson Rodrigues (?!), Drumond e Pessoa. "Tá faltando mulher aí", disse eu.
Ao concordar comigo, propôs-me completar com outros três, esses de mulheres, para compor a plêiade de sete nomes.
A ela, então, pois que não sou mulher de negar desafios, mesmo que assim...simplesmente:

Se me atiras o Rosa, Pedro, a ti retribuo com Florbela
mas se tratas de Drumond, remeto-me à goiana Coralina.
E para completar a lista, pena que curtíssima,
Levo o Pessoa
para deixar-te com a Hilda, e, também, Ana Cristina.

(e, comigo, a poesia ficou nua)