4 de outubro de 2009

Deprê pós férias




Recém chegada de Trancoso, onde estive pela primeira vez em 1982, e de onde guardo irreparáveis saudades, resolvi ir ao cinema depois de longos meses de abstinência. Hoje assisti a dois documentários muito bons no Festival do Rio: "Árvores com Figos", classificado como gay por tratar sobre Aids, do canadense John Greyson, e "Uma moda Transgressora", do alemão Marco Wilms, sobre jovens envolvidos com moda alternativa na Alemanha Oriental lá nos idos de 80.

E é esse último que me faz voltar a esse abandonado blog. Não pelo filme em si, mas pelo que me disse o diretor quando perguntei sobre as saudades que ali transbordam a 24 quadros por segundo, como se falta ele sentisse dos anos de repressão: "-Não é exatamente do estado das coisas de que sinto falta, mas da juventude".

Bingo. É isso mesmo. Enquanto andava pelas praias de Trancoso e olhava com sentimentos apocalípticos para aquela mata ainda preservada, mas já no corredor da morte, ou quando sentava no Quadrado e observava a turistada predatória esvoaçando em bandos barulhentos pelas inúmeras lojas e restaurantes, era por mim mesma que ensaiava um choro sem lágrimas. Era em meu Nome que minha alma cantava o blues, e não pela Bahia, e não pelo planeta.

Minhas saudades, traduzo agora, vibram pela minha esperança que se desmorona a cada dia, pela minha fé que se torna atéia, pelos meus sonhos cada vez mais esquecidos e desacreditados.

A minha tristeza não era pela raça humana, mas pelo meu corpo decadente, pelo fôlego que se encurta, pelo tesão que fica pra depois do cansaço interminável...

A grande diferença entre a Trancoso dos anos 80 e a de hoje, não é cidade e suas transformações: sou eu e o meu olhar.

Envelhecer é uma merda!