5 de novembro de 2009

Devaneios amigos

Quando eu era criança, costumava ficar pensando em lugares e épocas que gostaria de visitar caso pudesse viajar no tempo (desnecessário dizer que era fã incondicional do seriado "Túnel do Tempo"). Sempre me vi duquesa numa França pré-revolucionária a cavalgar pela Campagne com aqueles vestidos rodados, o castelo ao fundo, cachorros ao redor, o chapéu emplumado ligeiramente inclinado... Trés chic.

Uma outra viagem seria para o Rio de Janeiro, lá pelos idos do século XV, XVI, pré-colonial mesmo, com sua natureza intacta, a Lagoa quase se unindo ao mar, os mangues, os laranjais, tantos limoeiros e quantas gaivotas...Isso talvez por influência de meu pai, da família toda - somos carioquérrimos há pelo menos 7 gerações - e de tantas fotos e livros sobre o Rio antigo que até hoje insistem em pular das estantes diretamente para meu colo.

Enfim, sempre viajei nas impossibilidades e sempre fiz da imaginação o meu melhor meio de transporte.

De uns tempos para cá, comecei a imaginar amigos. Não exatamente amigos invisíveis, ou inexistentes, como os das crianças solitárias, mas amigos de carne e osso, estejam eles vivos, ou não. Explico melhor: existem pessoas na História, de todos os tempos, de quem gostaria de ser amiga, com quem gostaria de conviver. Exemplos?


Maria Antonieta. A-do-ra-ria frequentar o Petit Trianon, vestir aqueles modelitos, tomar chá à tarde, passear pelo jardim e flertar pelos salões de Versailles (pensem, porém, que em meus delírios tudo é belo, nada cheira mal, os dentes são perfeitos e há croissants para todos!).


Outro exemplo?


Elke Maravilha. Seria ótimo partilhar de sua exuberante alegria, ouvir seus causos, experimentar suas roupas lindas, suas perucas loucas, ouví-la declamar poesias, ainda que em russo.

E tem também os Novos Baianos (quantas viagens faríamos!), Freud (ficar ouvindo suas divagações sobre a psiquê humana...que delícia!), Charles Chaplin (só para frequentar os sets de filmagens), Scott Fitzgerald (ai, quantas festas, quantos espocares de champanhe!!).

Mas talvez o meu maior e mais querido amigo imaginário seja mesmo o Oscar Wilde. Como eu gosto desse cara! Tenho certeza de que nos daríamos muito bem. Em primeiro lugar, porque é (era) muito inteligente, e cérebros pensantes me interessam. Em segundo, porque macho pacas em sua condição corajosamente gay, e coragens me fascinam. E em terceiro, porque divertidíssimo, e senso de humor me apaixona.
Como não desejar conviver com pessoas que são capazes de sacar a alma humana em toda sua estupidez e mesquinharia e, mais ainda, que conseguem transformar isso em algo aprazível?
Atentem para essas frases do gênio:
-"Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal."
-"Quando eu era jovem, pensava que o dinheiro era a coisa mais importante do mundo. Hoje, tenho certeza."
-"Perversidade é um mito inventado por gente boa para explicar o que os outros têm de curiosamente atractivo."
-"As pessoas mais interessantes são os homens que têm futuro e as mulheres que têm passado."



Oscar Wilde
Cínico pacas. Hilário. J'adore...

2 comentários:

Redneck disse...

Fico com você no amigo Oscar Wilde. Por tudo: do cinismo ao humor, da atitude anti-vitoriana à visão de mundo. Adorei esse exercício de imaginação. Beijo!

gentil carioca disse...

Pois então, Mr. Red, segue aqui mais uma citação de OW que me parece conveniente nesse seu momento de crise profissional:

"A diferença entre a literatura e o jornalismo é que o jornalismo é ilegível e a literatura não é lida."
bj