1 de novembro de 2009

Considerações na madrugada




Nessa semana uma amiga me recomendou, sem muito entusiasmo, o filme "Quem quer ser um milionário", de Danny Boyle (vide "Transpoting" e "Cova Rasa"): "interessante", ela disse, "mas não entendi bem sobre o que ele trata", completou em reticências.

Acabei de assistí-lo agora e, ainda sob seu impacto, resolvi tentar colocar nessas linhas que seguem algumas considerações ainda não muito analisadas, mas que pululam alvoroçadas vagando entre risos e lágrimas...

Respondendo à minha amiga, poderia dizer que esse filme trata sobre a Índia, e não estaria mentindo: as lentes corajosas do diretor desfraldam um país famoso por sua natureza de cartão postal, por sua religião, arquitetura e História, mas imerso em loucas contradições bastante conhecidas por nós aqui na terrinha; conseguem rimar fome com violência, abandono com intolerância, para construir um poema por sobre as cinzas da escrotidão humana e pintar 24 quadros por segundo com todas as cores da pobreza terceiro mundista.

Poderia ainda dizer que trata sobre o Amor. Sobre um sentimento ali forjado na cumplicidade e na inocência da infância e que resiste à realidade e aos percalços do imponderável. E como são imensos os amores que no filme se renovam! Amor de irmãos, amor de mosqueteiros, amor de um homem por uma mulher. Amor por um sonho, por uma saudade.

Mas não diria, à despeito do título, que trate sobre a ganância, nem sobre desejos de riqueza. Absolutamente não. Nenhum personagem no filme é deslumbrado pela possibilidade de se tornar milionário, e os poucos endinheirados que por ali aparecem são uns infelizes coadjuvantes, sem nenhuma relevância outra que não a de servir como "escada" para nossos heróis involuntários.

Mas talvez a melhor palavra para definir "Quem quer ser..." seja "esperança". É, acho que é um fime sobre isso, sobre esse sentimento tão comprometido e clichê que insiste em nos levar à frente na eterna busca por algo em que possamos acreditar, em algo pelo que possamos lutar. Não foi à toa que falei em "amor de mosqueteiro" lá em cima. E não é à toa que esses 3, 4 ou 5 fiéis e bravos defensores de um longíquo rei francês são a grande metáfora do filme, seu grande lite-motiv, e que acabem por fechá-lo com uma enorme e brilhante chave de ouro.

5 comentários:

Redneck disse...

Gentil Carioca, eu não assisti ao filme mas vi depois os desdobramentos que também muito se assemelham às contradições aqui da terra: um dos protagonistas, não me lembro bem se o menino ou a menina, morava em favela e foi despejado pelo próprio governo para construir estrada ou algo que o equivala no lugar. A produção do filme demorou para tomar a si a responsabilidade de abrigar o menino decentemente. Era obrigação deles, depois de toda a repercussão mundial do filme e do caso do menino. A menina, por sua vez, começou a ser vendida pelo pai para entrevistas e tudo o mais. Até publiquei um post sobre isso. Enfim. É como você disse, é a esperança que nos move e também a esses indianos. Beijo!

Redneck disse...

Olha que loucura, saí daqui e vi seu comentário no meu blog!!!! Acho que postamos quase que simultaneamente!!! Beijo nas considerações de madrugada que nos conectam involuntariamente.

gentil carioca disse...

Mr. Red!!!!
É o amor...que seja pelas batatas, mas é o amor, sem dúvida, a nos unir!
E valeu pela informação, não sabia disso. Me lembrou o nosso "Pixote" (pobreza é sempre igual, as riquezas é que são diferentes, já cantavam os Titãs...).
bj grande

Mariana Monteiro disse...

Eu sou a amiga a qual a autora se refere. E não foi à toa que a procurei para recomendar o filme indiano. Soninha tem um olhar atento sobre as coisas da vida e a capacidade de traduzí-lo em palavras. Agora entendo a película. E se Quem quer ser um Milionário fala sobre esperança,fala também sobre o destino. E usando o longa como um mero coadjuvante, insisto em dizer que é destino dessa moça ajudar-nos a compreender... Ainda que de madrugada.
Um beijo grande, querida.

gentil carioca disse...

Pôxa, Mari darling, fico até sem graça frente à esses elogios...
Mas, quer saber? ADOREI!rsrsrs
Que bom que vc pensa assim. Estimula e me faz querer ser melhor.
beijo grande e vê se não para, você também, de escrever.