Para além das eternas discussões sobre Música ser ou não ser Poesia (e até porque eu não dou a mínima pro resultado da celeuma), fica aqui o registro do encontro entre dois abençoados e maravilhosos malditos que, a essas alturas, devem estar tomando todas em algum lugar entre o Alto Leblon e o Baixo Paraíso: Cazuza, o autor, e Cássia Eller, o bardo...
"Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia
E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria"
Todo Amor que Houver Nessa Vida
Cazuza
Composição: Frejat/ Cazuza
16 de dezembro de 2009
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3 comentários:
Cássia deixou uma companheira notável e uma saudade tão rouca como sua voz que cantava o Cazuza poético e pronto para todas as formas de amor. Adoro.
No final de 2001 eu brincava um baralhinho com amigos quando uma emissora de Rádio anunciou a morte da Cássia Eller; era a noite de 29 de dezembro, vinte e uma horas mais ou menos quando ouvi, paralisado, a notícia. Abortei as cartas e fui pra casa. Foi uma bomba pra mim aquele anúncio, pois, alimentava até então o desejo secreto de ouvir Eller interpretando uma letra de canção minha. Além, claro, de já admirar sobremaneira todo o repertório dela e, antes de tudo, toda sua força como cantora. Das maiores, com certeza. Desde ali, durante alguns meses eu fiquei me devendo estes versos, que, tempos depois, o grande cantor e compositor (perguntem a Roberto Mendes e Paulinho Pedra Azul) da novíssima geração, Samuel de Abreu, musicou linda e comovidamente. Eis-nos:
CÁSSIA CÚSTICA
Quando eu tiver a minha canção,
Ela jamais será cantada pela Cássia Eller.
Por que eu não fui poeta antes, então?
Antes de a Cássia partir, dezembro
Agora só me resta o dia amanhecendo
E poder ouvi-la nos versos de outro compositor,
Com ciúmes e inveja tão nobres quanto eu tecendo
A mesma trilha de um blues do Sergio Sampaio
E ousar sonhar isto será pelo menos um plágio.
Quando eu tiver a minha canção,
Ela jamais será ouvida pela Cássia Eller.
Por que eu não fui cantor antes, então?
Depois que a Cássia partiu, janeiro
Só me restou essa tristeza o ano inteiro
E tecer a sílaba de um samba sem paixão nem dor,
Cantar minha rima pobre como um falso desespero.
Cássia fartou-se da vida feito da música, Vandré
Mas deixou sua voz gravada na mais perfeita acústica.
(Pedro Ramúcio/Samuel de Abreu)
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